TRADUÇÃO DA ENTREVISTA QUE O PRESIDENTE DA ACADEMIA BRASILEIRA DE FILOSOFIA, PROF DR JOÃO RICARDO MODERNO*, CONCEDEU A PAOLLO DELLA SALA, UM DOS MAIS IMPORTANTES JORNALISTAS POLÍTICOS DA ITÁLIA, DO JORNAL ITALIANO "LIBERAL"
1. Qual é a atividade da Academia Brasileira de Filosofia? A Academia Brasileira de Filosofia é uma instituição civil sem fins econômicos que tem por objetivo a memória e divulgação do pensamento brasileiro no Brasil e no exterior, internacionalizando a filosofia brasileira. Nosso esforço tem sido de desenvolver a sede da Academia do ponto de vista material, e ao mesmo tempo realizar eventos variados, normalmente com parceiros diversificados. As posses dos membros perpétuos são momentos de alta relevância cultural-científica. A atividade da Academia envolve posses de membros, seminários, colóquios, palestras, cursos, eventos de outras instituições científicas e culturais, lançamentos de livros, reuniões dos acadêmicos, etc. Nós criamos o Centro Cultural da Academia que espera receber patrocínio de grandes empresas. Nós teremos uma galeria de arte, concertos de música erudita e popular brasileira, um restaurante, uma nova revista internacional de filosofia, uma coleção de livros de filosofia brasileira para editoras estrangeiras, cursos de filosofia gratuitos, prêmios variados, alem de outras iniciativas científicas e culturais. A Academia Brasileira de Filosofia fundou em Moscou em 2009 o Departamento de Filosofia e Cultura Brasileira através do Ministério da Cultura da Rússia, no Instituto Russo de Pesquisa Cultural (Culturologia), chefiado pela professora doutora Irina Malkovskaya. Ela esteve no Rio de Janeiro de 10 a 30 de setembro para estabelecer o conteúdo do programa do Departamento. Pela primeira vez na história da Rússia foi estabelecido um acordo oficial com o Brasil nas áreas científica e cultural. Nós acreditamos que esse acordo será extremamente benéfico para ambos os países, e no nosso caso, que nós poderemos ser muito úteis para a transição russa do totalitarismo comunista em direção à democracia e à liberdade. Eu quero fundar um Carnaval do Rio de Janeiro em Moscou, além de diversas atividades. Nós seremos interlocutores para debates filosóficos, científicos, culturais, econômicos e políticos. O BRIC irá funcionar.
2. Qual é a situação cultural no Brasil e em toda a America Latina? Já não há mais poetas e escritores, samba e bossa já se foram (exceto Marisa Monte…). A ciência parece em um impasse, a ler o que escreve Ronaldo Mourão em “Os 50 anos da Nasa e do Brasil”… A filosofia… qual é sua importância?
O Brasil está muito ativo culturalmente. Eu mesmo inscrevi o poeta e romancista Carlos Nejar como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura, por ocasião de uma visita minha à Academia Sueca em 2004. É um gênio da literatura mundial, nascido no Rio Grande do Sul e residente atualmente no Rio de Janeiro, embaixo do Pão de Açúcar, frente ao mar da Baía de Guanabara. Ele completou 70 anos este ano. A literatura brasileira está em uma fase excelente. A dança erudita é bastante festejada no mundo, assim como a popular. As artes plásticas hoje estão com nível de qualidade muito abaixo do nível alcançado no século XX. Não vejo muita perspectiva para as artes plásticas brasileiras. A música erudita não apresenta nenhum gênio criador mas nós temos excelentes maestros com concertos pelo mundo todo. A música popular é como o nosso futebol, a cada momento as grandes revelações nos enchem de alegria. Há muitos nomes de grande talento surgindo, sejam cantores ou compositores. Marisa Monte já seria um nome antigo. A ciência brasileira tem dado saltos de qualidade, apesar dos obstáculos gerados pelos sucessivos governos. O Instituto Oswaldo Cruz é um grande exemplo de sucesso na pesquisa. O Ministério da Educação é o grande responsável pelo atraso em muitas áreas, pois há um órgão do Ministério chamado CAPES que controla a autorização da abertura de mestrado e doutorado nas universidades. É um controle que não tem paralelo no mundo civilizado. Apesar de a Constituição Federal conter um artigo que determina a autonomia acadêmica das universidades, nenhum programa de pós-graduação pode funcionar legalmente sem a autorização da CAPES. A filosofia é vítima do mesmo sistema repressor. Mesmo assim, a filosofia brasileira evoluiu muito nos últimos 30 anos. Temos filósofos de reconhecido mérito em todas as áreas, com boa aceitação internacional. Em lógica matemática, Newton da Costa é tido como o mais importante no mundo hoje. Ele acaba de completar 80 anos. O que falta é a filosofia brasileira ser aceita como fundamental para o desenvolvimento do Brasil pelo todo da sociedade brasileira. A filosofia é obrigatória em todo o país no ensino médio ou secundário, o chamado segundo grau. A Academia Brasileira de Filosofia tem desempenhado um papel importante nessa conscientização da aceitação da filosofia nas políticas públicas. A filosofia tem assumido uma responsabilidade enorme nos destinos do Brasil, e a Academia Brasileira de Filosofia tem sido líder nesse processo.
3. A América Latina parece ser o último continente onde a esquerda pode viver e governar. Porque este “Back to the future”?
Muito importante a sua pergunta. Cuba e Brasil lideram, no plano teórico, a restauração do totalitarismo comunista mundial. Com o fim da URSS, Cuba desespera. Fidel convoca todas lideranças regionais de extrema esquerda para traçar uma estratégia comum. Cuba perdeu $ 5 bilhões de dólares por ano. A esquerda da América Latina uniu-se às FARC para obter financiamento da cocaína para a sua sobrevivência política. O sonho de mergulhar a America Latina na barbárie comunista foi ressuscitado. Chávez é o novo Carlos, o Chacal. A Revolução Bolivariana vem comprando e seduzindo políticos em toda a América Latina. As FARC são parte do chamado Foro de São Paulo, criado por Fidel Castro e Lula, seu primeiro presidente. Lula não é conhecido mundialmente por esta característica, mas sim pela outra, falsa, de democrata liberal. O Senado brasileiro está sendo pressionado por Chávez para aceitar a Venezuela no Mercosul, mas a associação de Chávez com o Irã agrava a situação. Todo cidadão iraniano ganha um passaporte venezuelano ao desembarcar na Venezuela. Caso ele seja aceito no Mercosul, qualquer iraniano entrará no Brasil legalmente, o que garante ações terroristas em curto prazo. A esperança do Irã é islamizar a América Latina, único continente majoritariamente cristão, onde o Islã não entrou. Afirmam que Chávez teria se convertido ao islamismo. Carlos, o Chacal, venezuelano, afirma da prisão perpétua em Paris que ele conciliou o comunismo com o islamismo. Talvez seja essa a perspectiva de Chávez. Ele pensa unificar a América Latina sob seu comando, acabando com os Estados nacionais. A UNASUL. Será uma guerra sem precedentes na América Latina, que poderá começar com guerras civis nacionais e estender-se internacionalmente. O acordo nuclear com o Irã tem causado profundas preocupações. O serviço secreto britânico publicou um relatório na Inglaterra acusando Chávez de traficante internacional de cocaína, informando que a Força Aérea Venezuelana busca na selva com as FARC a cocaína que, em seguida, é transportada e distribuída na Europa. Segundo o relatório, 90% da cocaína consumida na Inglaterra são de responsabilidade de Chávez. Os EUA acabam de divulgar um relatório semelhante sobre a cocaína vendida em seu território. O Foro de São Paulo tem as FARC como membro fundador. Marulanda era o nome do representante das FARC no Foro de São Paulo. Várias revelações surgirão em breve tiradas do computador de Raúl Reyes, morto pelas Forças Armadas da Colômbia em território equatoriano. Brasil, Cuba, Equador, Venezuela, Bolívia, Argentina, Paraguai e Nicarágua estão unidos no projeto do neototalitarismo comunista. A barbárie não descansa. Sarkozy, presidente da França, teria viajado para a Venezuela para encontrar-se com Chávez. Segundo fontes venezuelanas, Chávez teria proposto a libertação e extradição de Carlos, o Chacal, em troca de petróleo a preços muito abaixo do mercado. O embaixador da Venezuela em Cuba, por muitos anos, foi o irmão do Chacal. Portanto, há uma movimentação explosiva em curso na América Latina.
4. Lula parece ser, como Bachelet do Chile, um líder de esquerda, porém realista e moderado: muito mais parecido com Obama que com Hugo Chavez, porém isto é o que parece graças à imprensa “mainstream” de todo o mundo. Não é exatamente assim? Por exemplo, li em uma agência de imprensa iraniana que Lula e o Brasil defendem o direito do Irã realizar o programa nuclear. Também o fazem os países “Não aliados”. Por que este delírio político?
O presidente do Brasil assumiu a preservação da economia de mercado, pois ele corria o risco de um grande movimento popular para derrubá-lo caso quisesse implantar o comunismo imediatamente. O sucesso da economia brasileira o manteve dentro dos limites do aceitável. Ele não é moderado por natureza mas por conveniência política e esperteza sindical. Ele não pode deixar de ser moderado. Ele tolera a democracia liberal. Ele tem medo de ser visto como radical de esquerda. Daí a dissimulação.
Entretanto, a Casa Civil, que é o ministério que detém de fato o poder político federal, teve José Dirceu como ministro. Dirceu foi terrorista e espião cubano no Brasil, traindo o país. Teve o mandato de deputado federal cassado por corrupção, no episódio conhecido como “mensalão”, que era um pagamento ilegal que o governo federal fazia aos deputados e senadores para aprovarem as leis oriundas ou do interesse do poder executivo. Eles eram comprados literalmente. A sua substituta no ministério também é oriunda do terrorismo, Dilma Roussef. Logo, a Casa Civil está entregue ao grupo mais radical de esquerda, o grupo que nasceu no terrorismo das décadas de 1960 e 1970. Isso não é gratuito. Esse fato explica as relações ideológicas xipófagas com o Chávez. Obama é ambíguo, determina a proibição de visto dos EUA aos membros da Suprema Corte de Honduras, que decidiu pela deposição de um presidente-ditador e aliado das FARC, e mantém restrições econômicas contra Cuba. Joga nos dois lados. Bachelet, do Chile, é mais moderada, mas ideologicamente com tendência a apoiar Chávez, conforme suas decisões políticas têm mostrado. Lula - não o Brasil - defende o direito do Irã de realizar o projeto nuclear. O verdadeiro Lula é o Lula de Fidel Castro, Chávez, FARC, Irã, Hamas, Coréia do Norte. O atraso ideológico está no poder. A Europa é muito ingênua quanto a Lula. Eu reconheço que ele engana todo mundo. Um dia ele será descoberto. Aqui, na Europa e no mundo.
5. As relações dos intelectuais esquerdistas revolucionários - italianos, em particular - com o Brasil (e todo o continente): Toni Negri está por trás de todas as invisíveis revoluções latino-americanas, desde Cuba até Bolivia e Brasil? Qual é a penetração cultural dos politicos italianos no Brasil, por exemplo, Cesare Battisti, condenado como assassino na Italia, defendido pela casta dos intelectuales franceses, e abrigado do Brasil?
De fato, nós temos observado uma presença de extremistas italianos nos vários níveis do governo federal brasileiro. Eles têm o mesmo afeto e carinho que recebem os membros das FARC no Brasil. Eles estão unidos pelo mesmo projeto. Eles circulam livremente pela America Latina, em uma internacional bolivariana. Toni Negri é assessor permanente de Chávez, que segue literalmente suas idéias contidas no livro “O Poder Constituinte”, traduzido no Brasil, assim como quase todos os livros de Negri. Ele é o mais influente de todos. O mais perigoso. Ele é o grande ideólogo da Revolução Totalitária Comunista da América Latina, intitulada eufemisticamente Bolivariana. Chávez está reunindo extremistas islâmicos, comunistas e nazistas. A comunidade judaica na América Latina está toda em alerta total. Sinagogas foram invadidas na Venezuela e na Bolívia. O Hezbollah está implantado em vários países da America Latina, inclusive no Brasil. Nós temos informações de treinamento de índios-bomba na Venezuela, inclusive crianças. Battisti não tem nenhuma influência política no Brasil. Ao menos publicamente. É possível que prestasse assessoria esquerdista a setores do governo federal. Carla Bruni foi acusada de ter pedido ao presidente Lula a libertação de Battisti, tentando impedir a sua extradição para a Itália. Esse suposto pedido teve uma grande e negativa repercussão no Brasil. A opinião pública brasileira é majoritariamente a favor da extradição para a Itália. O Supremo Tribunal Federal deve votar pela extradição, ao menos essa é a tendência hoje. A grande maioria dos políticos e democratas brasileiros luta pela extradição. Enquanto eu publico e divulgo as obras do filósofo italiano Luigi Pareyson, a extrema esquerda publica e divulga Toni Negri. Eis a grande diferença, o abismo que me separa dos totalitários de esquerda.
6. Outras argumentações que para o senhor são importantes… Por exemplo, relações econômicas entre Brasil e Itália. O premier esquerdista Romano Prodi foi muito próximo de Lula, creio que por muitos negócios de George Soros (que havia investido muito na América Latina pelo biodiesel)…
Servir a dois senhores, à democracia liberal e ao totalitarismo comunista ao mesmo tempo - uma publicamente e outro dissimulado - não pode resistir muito tempo. As ambigüidades acabam tendo que ter e escolher um só caminho. Lula não está mais conseguindo esconder suas reais intenções e ideologia. Ele é um grande e hábil dissimulador. Suas formas tortuosas de expor as idéias escondendo, e de esconder ao expor já está devidamente decodificada pela inteligência brasileira. Ele alimenta a economia de mercado para não despertar suspeitas. Ele irá jogar a última fase da revolução comunista na conta e responsabilidade do novo presidente em 2010, que ele luta por ser uma mulher, Dilma Roussef. Caso eleita, a ela caberá o salto final no escuro. Pular no abismo. Nada une um esquerdista italiano e um brasileiro, a não ser um discurso genérico. O esquerdista brasileiro é um automóvel dos anos 1940, que imagina reinventar a Revolução Russa de 1917, ao som de samba com salsa. Tudo se converte em ideologia. Mesmo a etnia, seja ela qual for. Na falta do ortodoxo proletariado, toma-se um pouco de cada uma das etnias, mistura-se com estudantes vendidos, camponeses profissionais do MST (Movimento dos Sem Terra) e uma boa dose de ódio: o resultado é um extravagante ET desembarcando no mundo contemporâneo.
* JOÃO RICARDO MODERNO PRESIDENTE DA Academia Brasileira de Filosofia. DOCTEUR D’ÉTAT EM FILOSOFIA PELA UNIVERSITÉ DE PARIS I – PANTHÉON – SORBONNE PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Recebido por e-mail. Comento; Depois de um longo tempo sem postar devido a problemas de saúde , retornamos com esta importante entrevista, recebida por "e-mail" de um de nossos caríssimos amigos. |
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
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