MACHISMO
E COISIFICAÇÃO DA MULHER
Percival
Puggina*
Têm sido frequentes os casos de jovens que se deixam fotografar nuas por
seus namorados e, depois, passam pelo constrangimento de saber que essas imagens
foram postadas nas redes sociais. As consequências de tão imprópria prova de
amor desabam sobre a parte frágil, determinando padecimento, processos
judiciais, enfermidades psíquicas, crises de adaptação social e familiar e, em
certos casos, suicídio por total incapacidade para enfrentar a situação.
Surpreende que, mesmo com a reiterada divulgação de tais casos, algumas moças
ainda se exponham em tão desnecessárias
liberalidades.
Estranhamente, num ambiente social como o contemporâneo, ainda existem
jovens convencidas de que sua paixão do momento será eterna. E eternamente
responsável por elas. Afinal, eles as cativaram, hão de pensar. Falsas rosas de
Éxupery, tão confiantes em seus príncipes malandros! Confundem-se diante do que
mais desejam. Afligem-se em busca do amor e o confundem com sedução, desejo,
paixão. Mas não é assim. A medida do verdadeiro amor é a medida do sacrifício
pelo bem do outro. E como não é inteiramente própria da juventude essa
capacidade de renúncia, faltam a tais amores tanto as condições da perenidade
quanto o longo convívio que proporcione solidez à confiança mútua. É sabido,
porém, que estas observações - conselhos, vá que sejam - não costumam ser bem
recebidos por aqueles a quem se dirigem.
Quanto aos namorados pornofotógrafos, esses são malandros de escol,
colecionadores de troféus. São canalhas completos, canalhas de Nelson Rodrigues,
do começo ao fim de cada uma dessas tristes novelas. Canalhas ao fotografar e
canalhas ao divulgar as fotos. Quanto às jovens, pensando sobre a força
determinante dessa decisão de se deixarem fotografar assim pelos namorados,
percebi que existe algo contraditório aí. De um lado, a jovem está dando prova a
si mesma de um rompimento com a cultura da geração anterior. Ela é jovem,
autônoma, moderna, liberal e se deixa fotografar como bem entende. De outro - e
aqui se esconde a contradição - ela está servindo ao machismo e não à autonomia
da mulher! Essa jovem, que se crê autônoma, moderna e liberal, se oferece ao
altar do machismo. Ao coisificar-se, serve-o.
Nos meus tempos escolares, volta e meia aparecia alguém com uma revista
Playboy. Rapidamente, os varões da sala nos agrupávamos em torno da mesa e
contemplávamos aquelas desfrutáveis deusas da beleza. Nossas colegas do sexo
feminino irritavam-se e esbravejavam. Conosco? Para nós? Não. A irritação delas
era direcionada para as modelos da revista, para aquelas mulheres, jovens como
elas, que se dispunham ao papel de objetos sexuais para agrado e consumo dos
rapazes que as folheavam e delas faziam páginas viradas.
Meio século atrás, minhas colegas sabiam mais sobre si mesmas e sobre sua
dignidade. Eram mais sensíveis e mais valentes no enfrentamento do machismo do
que certas mocinhas do século 21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário