O QUE IMPORTA.
Entre as fantásticas obras escritas por Fernando Pessoa uma das frases que mais gosto é: "Se
escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que
confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens
com o que sinto".
Em
determinado período de minha vida comecei a escrever sobre um assunto
específico - o direito de propriedade -, que me interessava
ideologicamente e ao qual me dedicava, em função de um cargo que
ocupava.
Há
alguns anos, porém, tenho escrito a respeito do que penso ou sinto
sobre os mais variados assuntos. Essa mudança ocorreu principalmente
após um acidente, que me levou à cama por praticamente dois anos e
então, tinha tempo de sobra para refletir sobre minha vida e as pessoas
que me cercavam.
Como
poli traumatizado, por diversas vezes fui questionado sobre as dores
dos ferimentos, mas elas sempre foram muito menores daquelas sentidas
pelas descobertas que realizava com minhas observações e pensamentos.
Quando
comecei a escrever, os comentários das pessoas eram realmente
intrigantes, como o de um conhecido, que ao saber que havia escrito o
texto "O homossexualismo na sociedade brasileira" me questionou: "Uai João, mas você entende sobre esse assunto?".
Explicar
para uma pessoa que meu texto tratava do comportamento social de forma
histórica, no decorrer de séculos, narrando inclusive trechos bíblicos,
criaria situações até constrangedoras, pois para algumas pessoas, é
difícil entender que foi por meio da história, da literatura universal e
das observações que possuímos todo o conhecimento hoje existente.
Mesmo
antes da invenção da escrita, o conhecimento adquirido através das
observações foi passado por gerações, mas a com a escrita tudo ficou
mais fácil. Ela não transmite apenas conhecimentos. Pode transmitir
muitas outras coisas, como os sentimentos e é nesse campo que muitos se
realizam, pois escrevendo, conseguem expressar melhor o que pensam ou
sentem.
Com
as novas tecnologias da comunicação, abriram-se espaços inimagináveis
uma década atrás. Atualmente, qualquer um pode escrever o que pensa
sobre qualquer assunto e em segundos poderá estar sendo lido e debatido
em outro continente.
Quem
gosta de escrever e hoje utiliza a internet, há alguns anos não
imaginava que poderia, em segundos, transmitir a tantas pessoas, o que
pensa ideologicamente ou o que sente em relação aos amigos, filhos,
netos, um relacionamento, uma paixão ou um amor.
"Escrever é fácil, você começa com maiúscula e termina com ponto. No meio, você coloca ideias", escreveu Pablo Neruda.
"Buscamos,
no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta"... "Já
não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos
inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha"... "Meu tempo
tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem
pressa"..., escreveu Rubem Alves.
Consciente
de que, mesmo com um texto transmitindo eletronicamente para milhões de
pessoas, muito poucas terão interesse no que foi escrito, escrevo
simplesmente porque escrevendo me sinto bem.
A importância do que escrevo pouco importa. O que importa é escrever sobre o pouco que importa.
João Bosco Leal* www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e empresário
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