A
ADORAÇÃO A LULA
*Percival
Puggina
Atravessou os últimos sete anos sem esclarecimento cabal a
incompatibilidade entre a consagração que o povo brasileiro dedica ao
ex-presidente Lula e o que esse mesmo povo diz quando chamado a opinar sobre a
moralidade da conduta de terceiros. Alguns analistas consideram, com bastante
razão, que o brasileiro médio não consegue conectar o que pensa com o que faz.
Simetricamente, as ações e omissões de Lula na vida real não influenciam o juízo
que esse mesmo cidadão faz do ex-presidente.
Já saiu de cartaz e vai para a amnésia seletiva a operação da Polícia
Federal que revelou as relações promíscuas da personagem Rosemary com pessoas
envolvidas em corrupção. Os fatos, que teriam tudo para abalar fortemente a
imagem de Lula sequer lhe fizeram cócegas. No entanto, um breve resumo do que se
tornou público mostra a gravidade das revelações. Vejamos: a) Lula tinha um
affaire com Rosemary (até aí nada que mereça interesse, a não ser de alguma
vizinha fofoqueira); b) para tornar mais fáceis essas relações, ele criou um
cargo federal em São Paulo, designou Rosemary para esse posto e transferiu para
nós, pagadores de impostos, o ônus de sua manutenção (aqui os problemas já
entram para o campo político e penal, de onde não mais sairão, ainda que sobre
eles se estejam empilhando as páginas do tempo); c) com o mesmo intuito de
favorecer os encontros entre ambos, Lula inseriu a amiga nas comitivas que o
acompanharam em dezenas de roteiros internacionais, com livre acesso aos seus
aposentos privados, transformando em motel a aeronave presidencial; d) num
arroubo tão sem propósito quanto o de Calígula ao incluir seu amado cavalo
Incitatus na lista dos senadores de Roma, Lula fez com que fosse fornecido
passaporte diplomático à sua teúda e nossa manteúda, dando-lhe status de
servidora do país no cenário internacional; e) obviamente, a condição de
servidora "pública" em missão diplomática, credenciou Rosemary às diárias pagas
aos funcionários em tais situações; f) para ocultar todos esses fatos ao
conhecimento da matriz, Lula, contrariando rigorosos dispositivos que regem as
viagens aéreas, exigia que o nome da filial fosse suprimido das listas de
passageiros embarcados na aeronave presidencial.
Os leitores destas linhas sabem que tudo isto é fato. Aliás, fato que tão
logo divulgado constrangeu a presidente Dilma a extinguir o cargo que a nossa
manteúda ocupava no tal escritório de representação do governo federal em São
Paulo. E o ex-presidente, a despeito de sua situação de homem público e de suas
responsabilidades em relação aos próprios atos, manteve-se quieto como, digamos
assim, um guri cujas fraldas precisam ser trocadas.
Mesmo assim, o efeito dessas revelações sobre a imagem e o prestígio de
Lula é igual a zero. Efeito nenhum. Ora, se forem verdadeiros os sempre
altíssimos percentuais de apoio ao ex-presidente, é provável que muitos leitores
destas linhas tenham o maior apreço pelo nosso Berlusconi matuto. Mas é inegável
que o objeto desse apreço é um perfeito velhaco.
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* Percival Puggina (68) é arquiteto,
empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas
de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.Recebido por e-mail.
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