O
SENADO, DE MAL A PIOR
*Percival
Puggina
Costumo
falar com
meus botões.
Eles estão
sempre disponíveis
e são
muito bons
ouvintes. Sobretudo
os de
quatro furos.
Os de
dois furos
são mais
desatentos e
só resolvem
dar sinais
de sua
existência quando
estão pendurados
por um
fio. Pois
bem, quando
soube que
Renan Calheiros
aprumava-se para
disputar a
presidência do
Senado Federal,
com amplo
apoio da
base governista,
eu falei
aos meus
botões: "Este
país não
tem mais
jeito. Entramos
em downgrade
moral".
Talvez
o leitor
destas linhas
não lembre
quem é
Renan Calheiros,
mas os
membros da
Casa conhecem
sua biografia.
Renan foi
o escândalo
nacional de
2007 a
partir de
uma denúncia
da revista
Veja, em
maio daquele
ano. Renan
tivera uma
filha com
a jornalista
Mônica Veloso
e uma
empreiteira pagava
a ela
vultosa pensão
mensal. A
partir daí,
iniciou-se o
que ficou
conhecido como
Renangate.
Durante meses,
sucederam-se apurações
e investigações
envolvendo os
negócios do
então presidente
do Senado
Federal. As
denúncias incluíam
o uso
de "laranjas"
para dissimular
a compra
de veículos
de comunicação
em Alagoas,
a venda
fictícia de
quase duas
mil cabeças
de gado
para empresas
frias, com
notas fiscais
geladas, num
período em
que Alagoas
estava com
as fronteiras
fechadas para
o transporte
de gado
em virtude
de um
surto de
aftosa, e
por aí
afora. De
maio a
setembro de
2007, Renan
foi o
assunto preferido
das manchetes.
A 12
de setembro,
em sessão
secreta, o
Senado votou
proposta para
a decretar
a perda
de seu
mandato. Todos
os senadores
compareceram à
sessão. Renan
safou-se por
uma diferença
de seis
votos.
Seu
inferno astral,
contudo, prosseguiu.
À medida
que avançavam
as investigações
da imprensa
e se
desnudavam as
artimanhas usadas
para justificar
o injustificável,
aumentou a
pressão da
opinião pública.
Quanto mais
Renan explicava,
mais se
enrolava. Sua
permanência no
comando da
mesa dos
trabalhos constrangia
e afrontava
o decoro
de todos
os membros
do poder
(alguns, ao
menos, diziam
isso). Por
fim, ele
se licenciou
da presidência
por 45
dias e,
logo após,
renunciou ao
posto, mantendo
o mandato.
Cinco anos
atrás, leitores
amigos, imaginar
Renan Calheiros
voltando a
presidir o
Senado
com
o voto
de seus
colegas seria
algo impensável.
E se
eventualmente fosse
pensado, como
produto de
algum delírio,
seria uma
ideia impronunciável.
Em
2010, com
esse destacado
currículo, Renan
conservou a
cadeira, sendo
reeleito como
representante de
Alagoas, perfilando-se
na base
do governo
ao lado
do intrépido
Fernando Collor
(nascido no
Rio de
Janeiro, mas
senador por
Alagoas). A
ousadia da
máfia que
maneja os
cordéis da
República não
encontra limites.
Não se
trata, aqui,
de saber
se, quando,
nem como,
as muitas
e consistentes
denúncias que
envolviam a
figura do
senador acabaram
num picador
de papéis
em diferentes
órgãos de
investigação e
controle do
país. Trata-se
de entender
que só
pode haver
um motivo
para essa
absolvição pelo
silêncio, sob
o manto
protetor do
tempo. E
esse motivo
é o
mesmo que
agora pretende
guindá-lo ao
posto mais
alto da
nossa Câmara
Alta: comprometimento
com um
tenebroso projeto
de poder
que cravou
as unhas
no lombo
de uma
nação que
aceita ser
jumento de
carga dos
bandoleiros da
política que
nela se
instalaram.
______________
*
Percival
Puggina
(68)
é
arquiteto,
empresário,
escritor,
titular
do
site
www.puggina.org,
articulista
de
Zero
Hora
e
de
dezenas
de
jornais
e
sites
no
país,
autor
de
Crônicas
contra
o
totalitarismo;
Cuba,
a
tragédia
da
utopia
e
Pombas
e
Gaviões.
Recebido por e-mail.
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