O Sistema Sindical Brasileiro e as Greves
*João Bosco Leal
Por haver participado da política
classista durante vários anos, apesar de uma única participação na
diretoria de um Sindicato propriamente dito na década de oitenta,
sinto-me à vontade para realizar algumas reflexões sobre o sistema
sindical brasileiro.
Sem entender como os Sindicatos e as
Federações podem representar seus associados cuidando de interesses
distintos e muitas vezes opostos como fazem atualmente, depois dessa
experiência todas as minhas participações foram em entidades que não
fazem parte do sistema sindical, as chamadas organizações não
governamentais.
Penso que essas entidades possuem maior
legitimidade exatamente porque tratam exclusivamente de um interesse
específico como as que buscam o respeito à propriedade privada, a
reforma agrária, o meio ambiente, os povos indígenas e não de interesses
diversos, muitas vezes confrontantes como alguns dos citados.
No sistema sindical vigente em nosso país,
os mesmos sindicatos, federações e confederações que cuidam dos
interesses dos produtores de milho cuidam também daqueles dos criadores
de porcos e frangos que o consomem, o que penso ser inviável, pois os
interesses certamente são opostos.
Por questões de insalubridade,
capacitação, exigência de nível de escolaridade e outras, os interesses
dos trabalhadores rurais na agricultura são totalmente diversos dos
trabalhadores na pecuária e os sindicatos que os representam são os
mesmos. O sindicato que cuida dos interesses de um grande produtor rural
é o mesmo que cuida daquele ex sem terra que hoje, após assentado, é um
pequeno agricultor e isso ocorre em todas as áreas.
Trabalhadores de empresas estatais ou
privadas, Universidades Federais, Polícia Federal, médicos, professores,
bancários e funcionários dos correios realizaram ou estão realizando
greves e sem me aprofundar no mérito, fica claro que a busca de todos
eles é prioritariamente por maiores salários, com os sindicatos sempre
muito intransigentes nessas negociações. Entretanto, não vejo nenhum
sindicato incentivar a realização de greves para que seus filiados
recebam cursos para maior capacitação profissional.
O indivíduo capacitado, com mais cursos e
especializações, sempre conseguirá maior remuneração salarial e não
necessitará fazer greve para tal, ou nem mesmo ser filiado a nenhum
sindicato, só contribuindo a estes por obrigação legal.
Penso haver chegado o momento de uma
verdadeira mudança no foco central da questão. Em sua grande maioria as
lideranças sindicais que aí estão são verdadeiros profissionais da
exploração de seus filiados, não abandonando seus cargos e
frequentemente alterando seus estatutos para incontáveis reeleições,
pensando exclusivamente nas benesses salariais e mordomias obtidas com
esses cargos, sem, em nenhum momento pensar realmente nos interesses da
classe que deveria defender.
A obrigatoriedade da filiação sindical é o
principal motivo desses acontecimentos. No sistema democrático todos
devem ser filiados a uma entidade que oficialmente os represente diante
do poder público, mas precisariam ser livres para se associar a quem
entenderem que realmente os represente, podendo inclusive mudar quando
julgar que outra entidade o representaria melhor.
Os sindicatos deveriam pleitear sempre a
maior capacitação, educação e cultura de seus filiados, que assim serão
mais bem remunerados sem a necessidade de greves, mas isso não aumenta a
arrecadação sindical.
Trabalhadores mais capacitados não
reelegerão os líderes sindicais que aí estão e por isso as greves são
por maiores salários e não por maior capacitação.
*João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br
Jornalista e empresário
Recebido por e-mail.
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