O
SHOW NÃO DEVE CONTINUAR
*Percival
Puggina
O show a
que me refiro é esse, diariamente apresentado ao público pela trupe
política que, há mais de uma década, atua no grande palco, coxias
e camarins de Brasília. A estas alturas o povo já descobriu que o
PT oposicionista, vestido de lírios, com cheiro de madressilvas, era
encenação. Apresentava-se como um partido formado por almas
imaculadas, concebidas sem pecado, incapazes da mais tênue má
intenção. Fiquemos, neste texto, com o PT do governo, o que subiu a
rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2002. Seus
roteiristas e atores sabiam que o período precedente serviu apenas
para marketing da companhia. O povo só descobriu isso depois.
Nunca
fui fã de FHC. Sempre me pareceu que ele, entre outros defeitos, se
preocupava demais com o que o PT dizia. Sempre achei que ele deveria
fazer como Lula, que não leva o PT a sério. No entanto, a despeito
das duríssimas campanhas movidas pela encenação lulopetista, os
governos Itamar e Fernando Henrique implantaram e deram continuidade
a importantes políticas. A saber: a) o Plano Real, que a
trupe chamava de estelionato eleitoral; b) a Lei de Responsabilidade
Fiscal, que chamava de arrocho imposto pelo FMI; c) a abertura da
economia brasileira, que chamava de globalização neoliberal; d) o
fim do protecionismo à indústria nacional, que chamava de
sucateamento do nosso parque produtivo; e) as privatizações, que
chamava de venda do nosso patrimônio; f) o cumprimento das
obrigações com os credores internacionais, que chamava de pagar a
dívida com sangue do povo; g) a geração de superávit fiscal, que
chamava de guardar dinheiro para dar ao FMI; h) o Proer, que chamava
de dar dinheiro do povo para banqueiro.
Aquelas
medidas, entre outras, forneceram a estabilidade, a credibilidade e o
lastro fiscal para que o petismo, assumindo o poder em tempo de
bonança internacional, apresentasse como obra sua o espetáculo do
crescimento e distribuísse à plateia, entre outros, os dois grandes
pacotes de bondades que garantiram a eleição de Dilma: bolsa
família para os pobres e bolsa Louis Vuitton para os ricos. Esses
são os fatos, esse o script produzido com a caligrafia da História.
No show, na versão apresentada ao público, Lula e sua trupe
fizeram a economia brasileira colher aplausos internacionais,
decolando como o 14 bis para o voo ao redor da Torre Eiffel. Ah, a
mágica dos palcos! Ah, o lufa-lufa das coxias! Poucos se lembraram
de perguntar como a economia passou a crescer sem que se alterasse,
em nada, a política econômica que o PT condenava em seus
antecessores. Sem mudar uma vírgula, sem ter que pensar nem que usar
a caneta?
E agora?
Agora, o cenário internacional piorou. A poupança foi dilapidada e
as luzes vermelhas estão acessas nos paineis de todos os
economistas. A sirene de alarme soa no teatro. Além do desastre
continuado em Saúde, Educação, Segurança Pública e
Infraestrutura, o Brasil já apresenta problemas seriíssimos em dez
áreas fundamentais para o bom funcionamento das atividades
produtivas. Há um problema cambial (com o dólar baixo é mais
barato importar do que produzir, mas se o dólar subir a inflação
aumentará); as exportações diminuem e a indústria passou a
decrescer (-2,7% em 2012). Há um problema fiscal (o governo
necessitou de escabrosos artifícios contábeis para encenar um
pequeno superávit nas contas de 2012). Há um problema na taxa de
investimento da economia (um pouco abaixo dos 18%), muito inferior
aos 24% sem os quais o 14-bis levanta voo aqui mas tem que pousar
logo ali. Há o problema do PIB, que também precisou passar no
camarim e receber maquilagem para chegar a ínfimo 1%. Há o problema
da dívida pública, que se aproxima dos dois trilhões de reais. Há
o problema da inflação, cuja expansão em 2012 foi confessada à
plateia como sendo de 5,84% (um número assustador, principalmente se
considerarmos que o índice do primeiro mês deste ano chegou a
0,88%. Há o problema da balança comercial, que apresentou, no ano
passado, o pior desempenho em 10 anos. Há o problema da
infraestrutura insuficiente. E há, sobretudo, o despreparo dos
recursos humanos para atuar nos setores dinâmicos da economia, que
os empresários têm considerado como o mais alarmante problema que o
país enfrentará nos próximos anos.
Foi muito
fácil aos governos petistas colher aplausos enquanto gastavam o
patrimônio acumulado. Mantiveram-se na ribalta como salvadores da
pátria. Fizeram passar por gênios, canastrões como Palocci e
Mantega. A exemplo de todos os brasileiros, torço para que o petismo
encontre algum farelo de competência em si mesmo e tire o país do
fosso para onde o conduz há uma década. Em outras palavras, que
pare de fazer teatro e assuma um papel respeitável na historia. Este país, senhores, tem 200 milhões de habitantes que não podem ser tomados como platéia de embromadores.
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Percival Puggina (68)
é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país,
autor de Crônicas
contra o totalitarismo;
Cuba, a Tragédia da
Utopia e Pombas
e Gaviões.
Recebido por e-mail.
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