sexta-feira, 21 de dezembro de 2012




AH! ESSES "REPUBLICANOS"...
 
*Percival Puggina


"Guardai-vos do fermento dos fariseus que é a hipocrisia. Porque nada de oculto que não venha a descobrir-se, e nada de escondido que não venha a saber-se. Por isso, as coisas que dissestes nas trevas, serão ditas às claras, e o que falastes ao ouvido nos quartos será apregoado sobre os telhados" (Lc. 12,1-3).


  Há quem ande bisbilhotando os namoros e infidelidades conjugais de antigos ocupantes do trono presidencial para mostrar que nada de extraordinário ocorre no affaire de Lula com Rosemary Nóvoa de Noronha. Opa! Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

  As aventuras de Lula, enquanto aventuras, interessam a ele e, provavelmente, a dona Mariza Letícia. Mas não é disso que se vem tratando. Não consta dos anais da história que algum outro presidente tenha criado um cargo para acomodar convenientemente sua namorada. Aliás, o cargo, com as atribuições que bem convinham aos dois pombinhos, era tão desnecessário que a presidente Dilma o extinguiu de um dia para o outro. Qual outro presidente teve a ousadia de conceder passaporte diplomático à sua amante e a fez embarcar com ele em dezenas de viagens oficiais, com direito a diárias e às custas do erário, constrangendo a tripulação? Qual outro presidente da República deu-se ao desplante de determinar que o nome de sua manteúda fosse omitido da lista de passageiros, num desrespeito a normas nacionais e internacionais relativas ao tráfego aéreo? Nenhum presidente falou tão bem de si mesmo e nenhum chegou tão longe no uso abusivo do poder para atender conveniências pessoais. Nisso e em muitas outras coisas, Lula enxovalhou o cargo que ocupava. E prevaricou.

  Ele aprendeu ainda cedo, nos tempos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a usar as instituições e seus recursos para fins políticos partidários (Augusto Nunes, em Direto ao Ponto, 10/09/2012). Nem as viúvas dos companheiros que procurassem o sindicato escapavam das investidas de Lula (entrevista dele próprio à revista Playboy, mês de julho de 1979). O sindicalismo brasileiro tem longa ficha corrida de mamatas, boquinhas e abusos. Por isso é impossível dizer se Lula foi professor ou aluno numa escola de malandragens. Mas tornou-se, também nelas, Doutor Honoris Causa. O desempenho de funções de mando com respeito aos limites determinados por necessário senso moral não fazem parte de sua biografia. Foi graças a essa característica de seu caráter que, sem qualquer constrangimento, uniu-se àqueles a quem mais atacara e trouxe para perto de si quase todos os maiores patifes da República.

  Espanta-me que certas pessoas de seu partido, tão verticais quanto doutrinárias e professorais quando se tratava de cobrar espírito e conduta republicana de seus opositores, ergam-se agora em defesa de malfeitores condenados pelo STF. E formem tropa de choque para blindagem de um ex-presidente que sempre se julgou acima da lei e governou o país rodeado por quase todos os trezentos congressistas que ele mesmo, como deputado, contabilizara como picaretas. Deus cria, a vida separa e o diabo junta.

  Para concluir: em profundo constrangimento devem estar os jornalistas que cobrem o cotidiano da presidência da República. Foi preciso uma ação da Polícia Federal para trazer a lume algo que passou batido por todos eles ao longo de oito anos e dezenas de viagens presidenciais! Ou foram patetas ou se fizeram de patetas, seguindo o exemplo do nosso estadista de Garanhuns. Um jornalismo nada republicano esse, também.

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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Recebido por e-mail. 

 


VENEZUELA: RAZÕES DA DEBACLE DA OPOSIÇÃO NAS ELEIÇÕES ESTADUAIS! EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA!

 
   
1. Ex-Blog: Há explicações para essa vitória arrasadora do chavismo nas eleições estaduais venezuelanas? Como você, que é vice-presidente da UPLA (união de partidos latino-americanos) e da IDC (internacional democrata de centro), explica isso? R: Acompanhei de perto esse processo. Inclusive pedi ao Ex-Blog que anexasse um amplo estudo com pesquisas dois meses antes da eleição presidencial. Estive nas primárias da oposição como delegado-observador. Numa reunião restrita foram repassadas todas as possibilidades. A vitória de Chávez por aqueles 10 pontos era evidente.
  
2. Ex-Blog: E por que então a oposição participou desse jogo? R: Certamente havia setores da posição que tinham a ilusão da vitória. Mas não se deveria desestimulá-los. Essa pergunta foi colocada em discussão e o consenso é que se deveria participar por três razões. Com uns 45% dos votos, o eleitor saberia que a oposição é competitiva. Os principais candidatos da oposição nas primárias eram jovens, de uns 40 anos, o que permitia projetar um futuro sem ansiedade. E, finalmente, a impossibilidade de Chávez concluir seu mandato, o que abriria, em médio prazo, o chavismo em 4 ou 5 “partidos” e ofereceria uma clara perspectiva de vitória em seguida. Valia a pena participar; valeu a pena.
  
3. Ex-Blog: E como se explica esse resultado arrasador nas eleições Estaduais deste último domingo a favor do Chavismo? R: Chávez jogou bem e a oposição –entusiasmada com o resultado da eleição parlamentar onde obteve 51% dos votos nominais- deixou passar sem resistir ou tentar obstruir a decisão de Chávez de realizar as eleições estaduais apenas dois meses após a eleição presidencial. Debatemos isso na cidade do México, agora, 10 dias antes da eleição, com as pesquisas na mão. Até a eleição de Capriles em Miranda não estava garantida. A razão era clara e as pesquisas mostravam. Uma vez que Chávez venceu para presidente, ficar contra ele nos Estados era inócuo e até um risco. Assim respondiam os eleitores.
 
4. Ex-Blog: O que mais fez Chávez? R: Exonerou ministros, substituiu comandos militares e até seu vice-presidente e levou todos para disputar as eleições estaduais, em seu nome, não levando em conta o domicilio eleitoral e político deles. Capriles enfrentou o vice-presidente da república. Venceu com 52% dos votos, é verdade, mas perdeu a maioria no legislativo, o que será um cerco desafiante para ele.
 
5. Ex-Blog: Qual sua projeção para a Venezuela? R: Agora, no México, gerei surpresas quando, numa mesa sobre política latino-americana, disse que estava otimista com a Venezuela, muito mais do que com o Equador, seja pela muito melhor qualidade de Corrêa, seja pela inevitabilidade da desagregação do chavismo após o passamento de Chávez. No momento em que isso ocorrer, a oposição deve ser prudente, não aceitar confrontos nem provocações e deixar que o furacão passe para entrar em campo. Deve –desde já- olhar com atenção para as próximas eleições parlamentares e se debruçar nos resultados regionais e com pesquisas sistemáticas na mão.  


Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 19 de dezmbro. 
 



          MENSAGEM DE NATAL


"A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai 

em silêncio de nossos corações e aquece com 

ternura os corações daqueles que nos 

acompanham em nossa caminhada pela vida".

desconhecido

sábado, 8 de dezembro de 2012



NO QUE VAI DAR ISSO AÍ?

*Percival Puggina

   Não sou nenhuma celebridade, nem gostaria de ser. Mas volta e meia alguém me pára na rua. Felizmente não querem autógrafos. Querem saber no que vai dar isso aí. A pergunta se refere a essa coisa em que transformaram o Brasil. Minha resposta acaba sendo comprida. Então, doravante, para simplificar as coisas, passarei a responder por escrito. Andarei com a resposta no bolso.

   O Brasil está no olho de um furacão e não toma conhecimento. Como nunca antes neste país os problemas são graves e têm efeitos cumulativos. Mencionarei apenas os principais, relacionando-os à nossa posição no contexto mundial: a) estamos em 88º lugar no ranking da educação básica e no 66º da educação superior; b) este ano, pela primeira vez, entramos na lista das 50 economias mais competitivas, com um modestíssimo 48º lugar; c) nossas péssimas instituições nos deixam no 79º lugar em relação ao quesito qualidade das instituições nacionais; d) ocupamos o 99º lugar no ranking da liberdade de imprensa; e) somos o país lanterna do BRIC quanto ao número de registro de patentes nos Estados Unidos (apenas 7% do total obtido pela China no ano passado); f) ocupamos o 84º posto entre 187 países no ranking do desenvolvimento humano (IDH); g) somos o 69º país mais corrupto, com uma vergonhosa nota pouco superior a três. Junto com a proverbial impunidade, os sucessivos casos de corrupção, na novilíngua oficial, viraram "malfeitos" - assim como se fossem travessuras de gente grande.

   Não bastasse isso, 2012 foi um ano perdido. Nossa economia cresceu uma ninharia, pouco mais de um por cento, índice que nos coloca em penúltimo lugar entre os 20 países ibero-americanos. Como consolação, ganhamos do Paraguai. As tarefas centrais de qualquer governo - Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura - vão de mal a pior. Um governo desses pode ser bem pontuado distribuindo dinheiro para os pobres e para os ricos, e mandando a conta para a classe média. Dos primeiros vêm os votos; dos segundos a grana.

   A alegria dos criminosos brasileiros é a falta de policiais e presídios. Milhares de condenados operam livremente, ora por falta de quem os capture, ora porque não tem onde ficar detidos. Assim, convivemos com tenebrosa sensação de insegurança. E o governo aplicou, até o mês de novembro de 2012, apenas um por cento do que estava previsto no orçamento federal para construção de estabelecimentos penais. Aliás, em relação ao orçado para investimentos neste ano, o governo da União, em todos seus setores de atuação, conseguiu usar 34%. Quanto ao ano de 2013, é visível que o governo esgotou os truques para fazer a economia crescer à base do consumo interno: baixou juros, ampliou prazos de financiamento, concedeu substanciais reduções de IPI e chamou à sociedade ao endividamento. Haverá algo mais, na cartola das demagogias oficiais, além do nunca feito dever de casa?

   Não obstante tudo isso e muito mais, o governo e a população não têm tal percepção. E ninguém está mais longe de resolver um problema do que quem sequer sabe que ele existe. Os sucessivos escândalos que enxovalham o momento histórico e atingem danosamente nossa imagem internacional parecem não afetar as figuras centrais da república. Os patifes vivem à vida regalada, convictos da perenidade do regabofe em que se lambuzam.

   Então, as pessoas me perguntam: no que vai dar isso aí? Minha resposta é política. Quem está no poder sabe fazer mais do mesmo. As expectativas relacionadas a uma possível implosão do núcleo duro desse poder dependem exclusivamente da combinação de dois fatores: o que vier a acontecer com a imagem de Lula junto à opinião pública e dos rumos que forem tomados pela economia. Se, contrariando todas as probabilidades, a galinha que voou em meados da década passada, sair por planando como um falcão, continuaremos com mais do mesmo. O brasileiro, com dinheiro no bolso, pouco quer saber de democracia e de princípios morais. Mas nem a economia, como fator isolado, será suficiente para desconstruir a imagem do governo se a imagem de Lula não desabar.

   E Dilma? É preciso compreender que Dilma, assim como precisou de Lula para subir, precisará de Lula para descer. Se e quando a imagem de Lula desabar, Dilma cai junto. Fora disso não salvação.

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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

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