sexta-feira, 25 de novembro de 2011


Meus cabelos brancos


Como faço com todos os que me lembro, liguei para uma amiga de infância para parabenizá-la por seu aniversário e começamos a falar sobre nossas idades atuais, como o tempo passou rápido, o que pensamos agora e outros assuntos, que normalmente tratam todos os que atingem idades inimagináveis para eles quando jovens.

Engraçado como realmente uma espécie de filme nos vêm à mente, com lembranças de nossa infância, juventude e pequenos detalhes de situações vividas durante décadas são recordados em frações de segundos.

Somos capazes de nos lembrar de minúcias, palavras, locais, e cores de fatos ocorridos muitos anos atrás. Algumas músicas da juventude ainda podem ser cantadas sem erros, quando muitas vezes já nos esquecemos do que ocorreu ontem ou mesmo há poucas horas.

Ficam em nossa mente as coisas importantes ou que nos importaram, e se apagam aquelas sem importância, que podem até ter nos deixado alegres, tristes, magoados no momento, mas com o tempo acabamos percebendo que não eram realmente significativas, importantes.

Muitas dessas ocorrências são apagadas de nossa mente sem que sequer percebamos. É uma seleção natural, quando o que realmente importou ficou arquivado e todo o resto foi excluído do cérebro, impedindo que nos lembremos de fatos que na realidade, tiveram pouco valor.

As aparências mudam com a falta de cabelos, a celulite, a barriga, a flacidez do corpo, as rugas e as cicatrizes, mas nada disso têm importância alguma diante da experiência e sabedoria da pessoa que está ao nosso lado, achando graça, sorrindo de seu próprio passado.

Passamos a valorizar coisas mais profundas, menos fúteis, muito mais o ser do que o ter, como sempre nos mostraram os mais velhos, e então jovens, não acreditávamos.

Muitas tristezas emocionais, que deixaram cicatrizes no coração, agora provocam sorrisos, por terem sido de pequenas paixões da juventude, sem importância alguma.

Percebemos que uma boa conversa, um gesto, um olhar profundo ou uma única palavra, podem ser muito mais provocantes, insinuantes, que um corpinho ainda firme, sem celulite, que carrega uma mente vazia.

Ficamos maravilhados com o canto de um sabiá, pousado em uma árvore cercada de cimento e passamos a dar valor a centenas de pequenos detalhes da natureza, antes sequer notados.

O desabrochar de uma flor, o nascer e o pôr do sol ou um pássaro construindo seu ninho nos faz sacar uma máquina fotográfica, tentando perpetuar aquela maravilha.

As opiniões de terceiros sobre o que somos, temos ou fazemos, passam a ter muito menos ou nenhuma importância. Deixamos de fazer tantas críticas aos outros e a nós mesmos e quando com vontade, damos uma boa gargalhada e caminhamos de sandálias, mesmo que em um local público, quebrando algumas regras bobas de convívio social.

Quem nos censurará por, sorrindo, perguntarmos como se chama mesmo seu filho ou por, naquele momento, estarmos desarrumados, com roupas mais velhas e confortáveis? Pessoas que partiram muito cedo, como meu pai, deixaram de viver essa liberdade que só a maturidade nos proporciona.

Só os de cabelos brancos são capazes de, sorrindo, deixar escorrer pelo rosto a mais bela das lágrimas, a da saudade.

João Bosco Leal

www.joaoboscoleal.com.br

Recebido por e-mail.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MANUEL CASTELLS: "NÃO SE TRATA DE SALVAR O POVO, MAS DE SALVAR O EURO"!


(La Vanguardia, 20) 1. O problema não é a complexidade da crise, mas a democracia. O que os políticos mais temem nesses momentos é que os substituamos, que roubemos deles esse poder delegado que mantêm, por um mecanismo controlado de eleições entre opções enquadradas nos limites do sistema, e legitimadas pela mídia.

2. Na realidade, não se trata de salvar o povo, mas de salvar o euro, como se fossem a mesma coisa. Por que tanto interesse? E de quem? Porque dez dos 27 membros da União Europeia vivem sem o euro e algumas de suas economias (Reino Unido, Suécia, Polônia) são muito mais sólidas que a média da União Europeia? Defender o euro até o último grego é a primeira linha de defesa para uma moeda que está condenada porque expressa economias divergentes e que não têm um estado que a respalde. Com Portugal e Irlanda na UTI, a Espanha na corda bamba, e uma Itália em permanente crise política e endividada até o pescoço de seu ex-líder, a defesa franco-germânica do euro tem outras explicações.

3. A primeira razão é óbvia: salvar os bancos, principalmente os alemães e franceses, que emprestaram sem garantias para a Grécia e aos demais PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) mediante a manipulação de contas praticada, pelo menos no caso da Grécia, pela consultoria da Goldman Sachs (certamente, deve ser simples coincidência que Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu também foi empregado da Goldman Sachs). De início, já aceitam que precisarão esquecer 50% da dívida da Grécia. Mas os outros 50% têm que ser tirados do sangue, suor e lágrimas dos gregos, para que o não pagamento não acabe impune.

4. Quebram os países para que os bancos não quebrem. Mas por que se faz isso? No fim, os Merkozy [Merkel e Sarkozi] não são funcionários dos bancos. Têm seus interesses políticos, nacionais e pessoais. A Alemanha necessita realmente que o euro seja a moeda europeia e que seus sócios não possam desvalorizá-la. Porque o modelo de crescimento alemão é na realidade, o mesmo que o chinês: crescer por meio de exportações favorecidas por uma moeda subvalorizada. Se houvesse um euro-marco forte, a Alemanha perderia mercados na Europa perderia competitividade em relação a exportações espanholas ou italianas.

5. Mas há outra dimensão político-pessoal. Tanto Merkel quanto Sarkozy precisam estabelecer sua liderança europeia por razões de política interna e por projeto de grandeza nacional que é preciso disfarçar, para não despertar velhos fantasmas. E as outras elites políticas europeias? O sentimento de serem europeus, em um mundo em mudanças desde a América do Norte até a Ásia, dá-lhes a impressão de ser algo mais que produtos aldeanos do aparato de partido que tanto desprezam.

6. E o sonho europeu? Ele pode ser construído com as pessoas, amando-nos uns aos outros, em vez de ver quem paga a conta. Quando pensar em euro, pense fraude. Quando pensar em Europa, pense amigos.

Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 21 de novembro.



segunda-feira, 14 de novembro de 2011





NOTAS ECONÔMICAS BRASILEIRAS


1. (Globo, 12) Documento apresentado em Paris pelo ministro da SAE, W. M. Franco, o Brasil tem a maior taxa de rotatividade do mundo: 41% da força de trabalho mudam de emprego a cada ano. Na faixa de um a dois salários mínimos esse percentual passa de 50%.

2. (Merval – Globo, 12) Os países desenvolvidos aplicam cerca de 7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não passa de 1%, sendo largamente suplantado por Coréia do Sul e China países que estavam atrás do Brasil em 1980. Em 1960 a Coréia tinha escolaridade média superior em 1,4 anos de estudo, e hoje essa diferença já está em mais de 6 anos. A participação brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995, para 2,9% em 2009. No mesmo período, a China saltou de 5,7% para 12,5% e a Índia foi de 3,2% para 5,1%.

3. (Folha de SP, 13) Apesar de ter crescido na última década, a indústria brasileira perdeu espaço não só para a chinesa, mas também para a de outros países. O peso do Brasil na indústria de países emergentes recuou de 8% em 2000 para 5,4% em 2009, de acordo com a Onudi (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial).

4. A estimativa é que a Dívida Ativa somada, do governo federal, previdência, estados e municípios supere três PIBs do Brasil.

5. Em 2011, Brasil será o país da América Latina com o menor crescimento do PIB.

6. (Estado de SP, 13) Nas últimas semanas, três construtoras - Even, Gafisa e Eztec -cortaram em até 36% o preço de um grupo de imóveis novos. Uma cobertura de alto padrão, que custava R$ 4,2 milhões, passou a ser ofertada por R$ 2,8 milhões. Um apartamento na zona sul de São Paulo, avaliado em R$ 425,6 mil, agora sai por R$ 383,1 mil.

Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 14 de novembro.