segunda-feira, 26 de março de 2012





ELVIS MORREU, MAS STALIN VIVE


Percival Puggina

Confesso que volta e meia me vejo assistindo, pela tevê, às sessões do Senado Federal ou às da Câmara dos Deputados, embora esta últimas, não raro, se assemelhem a uma fila de telefone público mandando recados para o interior.

Pois foi num desses cateterismos televisivos através do coração da democracia brasileira que me deparei, na última quinta-feira, com a transmissão de uma sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado, sob a chefia do senador Fernando Collor. Na pauta, dois requerimentos apresentados por Eduardo Suplicy. O paulista, com sua retórica de hipnotizador, propôs o envio de duas moções. Uma ao governo dos Estados Unidos pedindo a desocupação de Guantánamo, a liberdade dos cinco agentes cubanos presos e condenados pela justiça norte-americana, e o fim do tal embargo comercial que ninguém respeita. A outra moção seria dirigida a Cuba, pedindo a libertação dos presos políticos e o levantamento das restrições às entradas e saídas de cidadãos cubanos no próprio país. Para quem não sabe, cubanos só saem de Cuba com beneplácito do governo ou dos tubarões. E o beneplácito do governo é o menos provável.

A primeira moção teve aprovação resoluta, unânime, indiscutível. A segunda abatumou. Os senadores Ranulfe Rodrigues, Vanezza Grazziotin, Fernando Collor e, principalmente, Delcídio do Amaral, entenderam inconveniente que o Brasil se imiscuísse em assuntos internos de Cuba. A moção foi rejeitada. Em vão Pedro Simon e Ana Amélia expressaram surpresa com a escancarada contradição. A maioria dos presentes não viu problemas em dar palpites à política norte-americana, mas fazer o mesmo em relação a Cuba, sim, constituiria grave intromissão em assuntos internos de uma nação soberana.

Exclame-se, amigo leitor. Xingue. Mas escolha adjetivos que correspondam a um diagnóstico político correto. Aquela turma conta muito com a ingenuidade alheia. Preza imensamente a ingenuidade alheia! Graças a essa ingenuidade, pela qual o ocorrido aponta direto para a rematada incoerência e para o absurdo, eles se dão o direito de fazer política segundo uma lógica própria, uma racionalidade disciplinada e obedecendo a um mínimo ético que é o máximo da malícia. As pessoas tendem a concluir assim: "Um peixinho de aquário perceberia tal contradição!". Sim, um peixinho de aquário e um senador stalinista. Então, entenda: qualquer deles, jamais votaria moção contra Cuba. Os repórteres que perguntaram à presidente Dilma e ao governador Tarso o que tinham a dizer sobre direitos humanos por lá, depois das recentes visitas à Ilha, proporcionaram a ambos oportunidade de tecer pesadas críticas aos Estados Unidos. Sem qualquer embaraço. Sobre Cuba, nada. Contradição? Não, apenas ética stalinista. Tudo pela causa, camaradas! Digam-me quando não foi assim. É por serem assim que tais autoridades, homens e mulheres, fazem um discurso sobre direitos humanos no Brasil, criam um Ministério da Mulher - e andam aos abraços com as autoridades iranianas.

Vou encerrar reproduzindo parte de um artigo no qual Eça de Queiroz, em 1871, expressou seu constrangimento ante o que via acontecer em seu Portugal. No caso, ele menciona a Espanha. Nós deveríamos colocar-nos, pelos mesmos e muitos outros motivos, também constrangidos diante do mundo. Diz ele: "O país não pode, em sua honra, consentir que os espanhóis o venham ver. O país está atrasado, embrutecido, remendado, sujo, insípido. O país precisa fechar-se por dentro e correr as cortinas. E é uma impertinência introduzir no meio de nosso total desarranjo, hóspedes curiosos, interessados, de luneta sarcástica".

Com a sociedade ingenuamente adaptada a uma crise moral de rosto sujo e cauda longa, podíamos, muito bem, passar sem ressuscitar entre nós e exibir ao mundo uma ética stalinista de malícia e conveniência que se impõe sobre tudo. Espere a incoerência e não se surpreenderá jamais.

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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

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MUDANDO OLHARES


João Bosco Leal*

Em conversa com uma pessoa muito querida, falávamos das dificuldades de relacionamento que possuímos, muitas vezes até com pessoas extremamente próximas, com o mesmo sangue, como pais e filhos, avós e netos, irmãos, primos e todos os outros tipos de consanguinidade e cunhados e cunhadas, que mesmo não possuindo o mesmo sangue um dia tornaram-se membros da nossa família ou entre amigos e amigas.

Soube da sua dificuldade com sua mãe, que mesmo quando se tornou avó de suas filhas não havia lhe acompanhado nos hospitais durante ou mesmo após seus partos, e não a tratava com o carinho que normalmente uma mãe dedica a uma filha ou netas e netos.

Tenho visto muitos casos de pais ou mães que demonstram claramente sua predileção por um filho ou uma filha em detrimento dos outros e eu mesmo, sempre sinto essa diferença por haver sido preterido. No caso dessa pessoa, era ainda pior, pois sua mãe não dedicava carinho e amor de mãe a nenhuma de suas filhas ou netos.

Normalmente é mais fácil conversarmos sobre nossos assuntos mais íntimos com pessoas estranhas ou recém- chegadas ao nosso círculo de amizades, evitando esses temas com os mais próximos, com que já temos menos tolerância e sempre, pensando que algum conflito poderá ocorrer, deixamos o assunto para outra ocasião.

Mesmo assim, após décadas de insatisfações, durante uma reunião familiar as filhas, agora já mães, reclamavam do tratamento recebido da mãe e tentavam entender o motivo desse comportamento, quando uma delas se lembrou de sua avó materna, de como era dura no tratamento das pessoas e esse deveria ser o motivo principal: a mãe não sabia dar o que nunca havia recebido.

Apesar de guardarem profundas mágoas, resolveram alterar radicalmente seu relacionamento com ela, tomando desde atitudes mais simples, como abraços e beijos que entre eles nunca ocorria, a telefonemas diários e visitas constantes, enfim, dando-lhe todo o carinho que gostariam de haver recebido. A família passou então por uma transformação nunca imaginada pelas filhas, que hoje convivem com a mãe como sempre sonharam.

Quando nas relações não somos tratados como imaginamos que deveríamos ser, a tendência é nos afastarmos daquela pessoa sem procurar as origens de suas atitudes, como e onde nasceram, foram alimentadas, educadas, estudaram e uma enorme quantidade de variáveis que poderiam justificá-las.

Municiados dessas informações provavelmente teríamos muito mais facilidade em nos relacionarmos com outras pessoas, pois mais facilmente poderíamos entender muitas de suas atitudes e relevá-las, assim como muito provavelmente outros, na mesma condição, fariam conosco.

Em uma de suas citações, amplamente divulgadas o padre Fábio de Mello disse: "Já que não tenho o dom de modificar uma pessoa, vou modificar aquilo que eu posso: o meu jeito de olhar para ela!".

De fato, a solução mais fácil para as mais diversas dificuldades de relacionamento depende da nossa maturidade e humildade, de darmos o primeiro passo em busca de uma melhoria, procurando ouvir, saber dos motivos e mostrando àquela pessoa que mesmo nunca tendo recebido, de você ela terá o que lhe faltou.

Em qualquer relacionamento, social, de amizade, familiar ou amoroso, incompreensões, faltas, acertos e erros poderão ocorrer, mas antes de julgarmos ou tomarmos decisões precipitadas, deveríamos refletir sobre a origem dos motivos que levaram ao acontecimento.

Além de não cobrarmos de uma pessoa o que ela não possui, devemos dar-lhe o que nunca teve.

www.joaoboscoleal.com.br

* Jornalista, escritor e produtor rural

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segunda-feira, 19 de março de 2012


OS INIMIGOS DA ANISTIA


Percival Puggina


"O que está em jogo nesse processo (...) é a disputa da memória e da verdade histórica e política do período. De um lado, os que lutaram contra o golpe militar, pela democracia e pela liberdade em nosso país (...)". Extraído do site inverta.org.


Não há qualquer novidade nisso. Nem na "disputa da memória e da verdade", nem na deslavada e tão repetida mentira que lhe segue. A pacificação nacional, a normalidade democrática e a anistia, quando necessária para isso, sempre tiveram inimigos. No geral, os mesmos, que se reproduzem e se repetem como ondas chegando na praia das instituições nacionais. Durante os governos militares, a pacificação foi retardada por aqueles que pegaram em armas para derrubar um regime autoritário e implantar um outro, totalitário, infinitamente pior. Impossível negar: sob orientação e financiados por potências estrangeiras, ansiavam por implantar no Brasil uma ditadura do proletariado segundo os modelos que, entre outros, tiranizavam os povos da URSS, China e Cuba. Em diversos depoimentos, os próprios militantes da luta armada reconhecem que ela serviu para prolongar o regime militar. Assista, a propósito, o filme Hércules 56, onde conhecidos participantes daqueles episódios afirmam-no de viva voz e corpo presente. Não há que negar, tampouco: se entre os que pegaram em armas existiu alguém com afeições democráticas, essa afeição era tão clandestina, tão dissimulada que não chegou a ser conhecida. Jamais deu nome a qualquer de suas organizações ou fez parte de seus documentos ou manifestos. Bem ao contrário. A democracia, para eles, era papo da burguesia.


A própria anistia de 1979 precisou - por incrível que pareça - superar obstáculos interpostos por dois flancos. Pelo flanco da direita agiam militares da chamada linha-dura e políticos civis que anteviram a perda do poder sob o qual vicejavam. Pelo flanco da esquerda atacavam-na políticos de muito mau caráter, receosos da concorrência dos exilados e anistiados que retornariam às refregas eleitorais. Lula chegou a expressar sua contrariedade com a possível volta dos que estavam no exterior em recado enviado ao general Golbery, através de Claudio Lembo, então presidente da ARENA: “Doutor Claudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós?" Essa reunião e a resposta de Lula foram testemunhadas pelo jornalista José Nêumanne que relatou o episódio no livro "O que sei de Lula".


Como tudo no Brasil, a anistia virou uma negociata. Milionárias indenizações e farta distribuição de robustas pensões vitalícias se derramam ainda hoje sobre árvores genealógicas inteiras. Em alguns casos fazendo justiça; noutros servindo à sanha de picaretas. E de novo Lula aparece na lista. Virou pensionista por ter sido destituído da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Pediu e levou. Ligeirinho. Um negócio da China.


Mas o fato é que apesar dos pesares, dos opositores e dos abusadores, a anistia restaurou a normalidade institucional e estamos no rumo para cumprir o mais longo período de estabilidade política da nossa história republicana. Mas isso não satisfaz os revanchistas. Em plena conformidade com a tradição dos totalitarismos, é preciso escrever a história com os substantivos e os adjetivos que lhes convém. É preciso transformar bandidos e traidores em mártires. É preciso pendurar no peito de guerrilheiros comunistas, assaltantes, quadrilheiros, sequestradores, cultores da violência, que sempre desprezaram a democracia e seus valores, a medalha de honra da causa que ridicularizavam. E é preciso acabar com essa tranquilidade porque, como ensinou o camarada Che Guevara de suas surradas camisetas, "o ódio é instrumento de luta".


Escolha o leitor com quem quer ficar. Se com o ódio cultivado de Guevara ou com as palavras que Mandela transformou em vida vivida na África do Sul: "Ninguém nasce odiando (...). Para odiar as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem aprender a amar".


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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.


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A imunidade criminosa


Nos cinemas ou na televisão, milhares de pessoas assistiram os dois filmes Tropa de Elite, nacionais com qualidade rara em nossa história cinematográfica onde, durante seu depoimento na CPI da Corrupção realizada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o personagem em torno do qual se desenrola a trama, Capitão Nascimento, declarou que entre todos os deputados daquela casa, somente seis ou sete tinham ficha limpa.

E que tanto o Secretário de Segurança Pública quanto o Governador estavam envolvidos com as milícias que dominavam as comunidades faveladas, fazendo vista grossa para os crimes por elas cometidos para, em troca, receberem milhares de votos dos moradores nas próximas eleições. O filme termina questionando quem seriam os verdadeiros interessados naquele sistema e mostrando a imagem do Congresso Nacional em Brasília.

Quem vive em outro país e os assistisse, certamente pensaria que a história foi criada na mente do autor e transportada para as telas por diretores, elenco e equipes especializadas, como normalmente ocorre nas mais diversas tramas, policiais, românticas ou de suspense, mas quem vive no Brasil sabe que aqueles enredos estão tão próximos da nossa realidade, que se enquadram melhor como documentários.

Raros são os dias em que os meios de comunicação não mostram casos de corrupção nos mais diversos setores da administração pública, em todos os três Poderes Constituídos da República.

Em qualquer país razoavelmente sério, casos como o do juiz que ficou conhecido como Lalau, condenado por superfaturamento na construção do Tribunal de Justiça de São Paulo, provocaria a condenação e prisão tanto o corruptor como os corrompidos e a devolução integral do dinheiro roubado seria incansavelmente buscada, mas não é o que ocorreu ou ocorre no Brasil, onde juízes são flagrados vendendo sentenças e o máximo que lhes ocorre é serem aposentados compulsoriamente, mas com direito ao salário integral e sempre atualizado com os mesmos índices dos que estão na ativa.

Nos mais diversos áreas do governo federal pessoas que ocupam cargos elevados, inclusive Ministros e Chefes de Casa Civil da Presidência da República, diretamente ligados à Presidente da República, são acusadas de corrupção e só após muita pressão e divulgação dos fatos algumas são destituídas.

Deputados adicionam ao Orçamento da União emendas de interesse exclusivo de empresas que lhes retribuem com enormes quantias, posteriormente cobradas do contribuinte com o superfaturamento das suas obras, muitas vezes sequer realizadas ou suplementadas constantemente antes de sua conclusão. Outros, filmados recebendo a propina não são condenados, pois seus pares não dão sequer a autorização para que sejam julgados.

O enriquecimento exponencial de membros do governo jamais é questionado e, mesmo quando a corrupção é comprovada, nada ocorre efetivamente, pois a população nunca vê qualquer providência ser tomada para que os recursos públicos roubados sejam devolvidos.

Recentemente a Ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça provocou enorme tumulto nos Tribunais de Justiça de diversos estados ao declarar que existiam bandidos de toga. Juízes e associações de magistrados tentaram diminuir os direitos investigativos do Conselho, o que só não ocorreu em decorrência da enorme repercussão do caso e do enorme apoio recebido pela juíza nas mais diversas redes sociais e em todos os meios de comunicação do país.

Como se fossem seres superiores, os que exercem altos cargos públicos e cometem crimes comuns, como roubo, falsidade ideológica, formação de quadrilha e outros, são julgados por Tribunais Especiais, com acesso público negado mesmo que para simples informações sobre o andamento do processo.

A imunidade parlamentar, criada para proteger atividades exclusivamente políticas, está sendo utilizada para acobertar ações criminosas.

João Bosco Leal

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*Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural.


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sábado, 10 de março de 2012




O CISCO E A TRAVE.


Percival Puggina


"Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave que há no teu próprio olho?" (Lc 6, 39-42)

Numa de suas parábolas, Jesus propõe a indagação acima para induzir os circunstantes a refletir sobre a própria conduta. A imagem contundente que usou pode ser aplicada, o tempo todo, às mais variadas situações porque, de fato, nossa atenção aos erros alheios é inversamente proporcional à que dedicamos aos erros que cometemos.


Mas não é sobre moral ou religião que escrevo. É sobre o que está acontecendo com a economia brasileira neste momento em que começam a pipocar, aqui e ali, pequenos registros sobre o processo de desindustrialização em curso no Brasil. Quando comecei a falar nisso, ainda em 2010, em programas de rádio e tevê, as pessoas me olhavam como se uma ave de mau agouro tivesse pousado no microfone. Só faltava me dizerem - Xô! Era um tempo de euforias eleitorais, quando fazia parte do jogo afirmar que estava tudo muito bem, ainda que não fosse assim. Era um tempo em que o devidamente aparelhado IPEA cuidava de servir à mídia um indicador positivo por dia. Hoje, é a própria indústria brasileira de bens de consumo que proclama: está difícil exportar porque nossos preços não são competitivos e resulta impossível vender no mercado interno pois grande número de produtos importados chega às prateleiras com preços inferiores aos custos locais de produção.


Cansei de advertir: a) que estávamos retornando ao perfil de país produtor de bens primários que tivemos na primeira metade do século passado; b) que voltávamos a ser meros exportadores de matérias-primas; c) que o Brasil não era valorizado lá fora como fornecedor, mas como mercado; d) que uma economia baseada na venda de commodities não paga bons salários para a massa trabalhadora e não gera desenvolvimento social sustentável; e) que, diferentemente dos Estados Unidos, nós não podíamos nos dar ao luxo da desindustrialização porque ainda obtínhamos notas de reprovação em desenvolvimento tecnológico. Pois mesmo diante desse quadro continuamos apontando cisco no olho dos outros. O culpado é o câmbio! Com esse dólar não tem jeito! O dólar e o euro estão sub-apreciados porque convém às exportações dos respectivos países! A culpa é dos ricos! A culpa é dos ianques! A culpa é dos outros! Eles não cuidam de seus desequilíbrios fiscais! Eles - oh, eles! - seguem a Lei de Gerson e querem vantagem em tudo...

E a trave no nosso olho? Como pode a sexta economia mundial responder por pouco mais de um por cento do comércio internacional? Pois é. Como pode? Anote aí, leitor: mesmo com esse dólar, tivéssemos feito o que nos corresponde, conseguiríamos ser competitivos além das commodities (que compõem um mercado faminto, eminentemente comprador). No entanto, as traves no nosso olho são irritantes e causam cegueira. Com educação de baixíssimo nível; recursos humanos operosos mas pouco produtivos; transportes usando o modal mais caro e em más condições, sem ferrovias nem hidrovias; energia caríssima apesar de dispormos de fontes hidroelétricas em abundância; carga tributária chegando a 37% do PIB e um sistema oneroso de pagamento e controle; a maior taxa de juros do mundo; e por aí vai - como ser competitivo? Tudo que descrevi neste parágrafo é responsabilidade nossa e muito pouco foi diligenciado. É a trave no nosso olho. Tivéssemos feito o dever de casa, conseguiríamos ser competitivos e faríamos rodar nossa indústria mesmo com o dólar no patamar atual. Mas preferimos apontar o cisco no olho da Europa e dos Estados Unidos.

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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.


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A quem interessa uma crise militar?

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Silvia Palacios

A tensão criada entre a cúpula do Governo Federal e o comando das Forças Armadas, em torno do rumo a ser tomado pela denominada Comissão da Verdade, não pode ser entendida apenas sob a visão estreita de que se tratariam dos desdobramentos de um passo necessário para que o País acerte as contas com a História.

Em realidade, essa insistente investida dos setores ideológicos radicais, encastelados no Partido dos Trabalhadores (PT) e agremiações políticas congêneres e em uma pletora de organizações não-governamentais (ONGs) com a mesma orientação, que chegaram ao Governo Federal na presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, integra uma campanha de décadas dos centros de poder anglo-americanos contra as instituições dos Estados nacionais ibero-americanos, em especial, as suas Forças Armadas. Agora, o objetivo imediato é provocar uma reorientação da política externa brasileira, de forma a realinhá-la com os EUA e abandonar o processo de uma diplomacia independente em relação à integração da América do Sul e ao Oriente Médio. É com esse pano de fundo que vem sendo exacerbado o tema dos direitos humanos, quase às vésperas da visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA.

O mais preocupante é que esse tipo de acomodação às pressões externas têm determinado uma série de decisões estratégicas no País, como se viu em diversas oportunidades, nos governos anteriores, tais como nos casos das delimitações de grandes reservas indígenas e da draconiana e restritiva política ambiental nacional.

Nesse empenho, se insere a militância ostensivamente assumida por representantes da mídia, como é o caso da jornalista Míriam Leitão, das Organizações Globo, notória representante dos interesses anglo-americanos no País.

É possível que nem a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, nem sua colega de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, se deem conta desse fato, quando proclamam as suas diatribes contra as Forças Armadas e insistem em vocalizar as demandas da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) contra a Lei da Anistia, a forma institucional encontrada pelos brasileiros, ao final da década de 1970, para se reconciliarem os interesses nacionais.

Diplomacia dos direitos humanos

Não obstante, o fato é que os temas dos direitos humanos, proteção ambiental, questões indigenistas e fundiárias e "igualdade racial", têm sido intensamente manipulados pelos centros de poder anglo-americanos, como parte de sua agenda "globalista" de enfraquecimento das instituições dos Estados nacionais soberanos, dentro do igualmente utópico conceito de um mundo "pós-westfaliano", no qual um papel crescente vem sendo atribuído a entidades como as ONGs, que, supostamente, representariam melhor as demandas das sociedades.

Na prática, muitas dessas ONGs funcionam como autênticos elementos de guerra irregular, influenciando a formulação de políticas públicas e ações governamentais de interesse dos seus patrocinadores, como governos e fundações privadas estrangeiros, de uma forma muito mais eficiente do que seria possível com ações militares clássicas - o que se enquadra no conceito de "guerra de quarta geração", no qual um Estado se opõe a elementos não-estatais (mesmo que estes estejam a serviço de outro Estado nacional).

Uma demonstração dessas pressões externas, que evidenciam o caráter intervencionista de uma diplomacia "oficiosa", é a ameaça ostensiva do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), de deflagrar uma campanha internacional contra o Brasil, caso o País não cumpra a decisão da CIDH sobre a Guerrilha do Araguaia. A conotação da ameaça fica evidenciada na declaração da diretora da ONG, Beatriz Affonso: "Este ano vão se cumprir dois aos sem avanços substanciais. Não faz sentido um país que quer entrar para o Conselho de Segurança da ONU se recusar a avançar na punição dos que, em nome do Estado, cometeram essas violações. Qual a idoneidade do Estado brasileiro para decidir sobre possíveis intervenções em outros países? (O Estado de S. Paulo, 26/02/2012)."

Em especial, o conceito de direitos humanos defendidos por tais grupos e seus promotores internacionais reflete uma concepção limitada e maniqueísta, que converte esses direitos em um autêntico fetiche abstrato, em grande medida, desvinculados de um conceito abrangente de Bem Comum e dos interesses maiores da sociedade. Um exemplo emblemático da orientação ideológica dos paladinos dos direitos humanos da Esplanada dos Ministérios foi a deplorável decisão de negar a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, condenado em seu país por quatro homicídios qualificados.

Desafortunadamente, a reação intempestiva da presidente da República, ao determinar ao ministro da Defesa Celso Amorim uma intervenção contra o manifesto dos clubes militares sobre as declarações das ministras, chegando a pedir uma punição para um dos seus organizadores, sugere que a chefe de Estado pode estar deixando as reminiscências do passado condicionarem a sua atitude frente a uma situação que exige, acima de tudo, uma visão plena dos interesses do Estado brasileiro, em um momento crucial de definições na transformação da ordem de poder global em curso - processo no qual as F.As. tendem a desempenhar um papel fundamental.

De fato, o Brasil é o único integrante do grupo BRICS cuja capacidade militar é muito inferior às suas dimensões e potencialidades econômicas, sendo atualmente incapaz de prover uma capacidade dissuasória mínima contra qualquer eventual agressão externa de monta. Ademais, é visível o exemplo negativo da vizinha Argentina, onde o revanchismo político implicou em uma brutal deterioração das condições operacionais das Forças Armadas, deixando o país em uma humilhante condição de impotência diante de episódios como as recentes provocações militares do Reino Unido, em torno da disputa pelas Ilhas Malvinas.

Em vista do quadro de nuvens carregadas e fortes turbulências que caracteriza o cenário global, em que um dos componentes críticos é uma retração do poderio militar e econômico estadunidense - com as reações negativas deste fato dentro das próprias fileiras do Establishment -, não surpreende que os parceiros brasileiros no BRICS, especialmente, a Rússia e a China, estejam se preparando para todas as contingências. Por tais motivos, o Brasil precisa, igualmente, estabelecer os seus planos estratégicos, para o que necessita do entendimento e do empenho de todos os setores da sociedade - e, portanto, não pode dar-se ao luxo de ensejar dissidências internas causadas por um grupelho de indivíduos que se comportam como viúvas da Guerra Fria.

Assim sendo, é fundamental que as cabeças frias prevaleçam, para evitar o aprofundamento de um quadro de tensões internas, que beneficia apenas os interessados em obstaculizar a maturidade e a ascensão do País no plano mundial.

Antecedentes

O tema dos direitos humanos vem sendo instrumentalizado contra o Brasil desde meados da década de 1970, com o advento do governo de Jimmy Carter, que o utilizou como parte de uma estratégia para tentar anular o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, o qual via como séria ameaça à sua agenda de não-proliferação nuclear. Em sua visita ao País, em março de 1978, Carter provocou grande irritação no governo do presidente Ernesto Geisel, ao dar uma carona em seu carro ao então cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, de quem recebeu denúncias sobre violações de direitos humanos pelo regime militar.

Posteriormente, juntamente com o pastor Jaime Wright, alto dignitário da Igreja Presbiteriana no Brasil (que proporcionou o suporte financeiro), e o rabino estadunidense Henry Sobel, do Centro Israelita Paulista, ambos com importantes vínculos políticos nos EUA, Arns seria o coordenador do projeto que resultou na publicação do livro Brasil: nunca mais, em 1985. No livro, são listados os nomes de centenas de integrantes das forças militares e policiais que participaram da repressão às insurgências armadas no País - muitos deles, potenciais alvos de futuros processos, se dependesse dos militantes dos direitos humanos encastelados nos porões do Planalto.

Por detrás do projeto, estava o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), órgão que, sob a fachada da integração religiosa, oculta as altas funções que executa como integrante das redes mais intervencionistas do aparato de inteligência anglo-americano. Criado em 1937, o CMI teve entre os seus fundadores o britânico lorde Lothian, um dos líderes da facção pró-Hitler na Grã-Bretanha, e o estadunidense John Foster Dulles, representante da Igreja Presbiteriana e futuro secretário de Estado no governo de Dwight Eisenhower, no qual seu irmão Allen foi o diretor-geral da Agência Central de Inteligência (CIA).

O CMI também esteve bastante ativo na campanha de desarmamento civil, na qual os seus estrategistas ainda não digeriram a acachapante derrota sofrida no referendo brasileiro, em agosto de 2005.

A entidade apoia, igualmente, as redes ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e seus apêndices, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), todos empenhados em campanhas ambientalistas contra grandes projetos de infraestrutura, que têm custado caro ao País.

Na década de 1990, tais redes receberam o reforço de duas ativas integrantes do "exército irregular" de ONGs mobilizadas, em particular, contra as instituições militares da América do Sul, a Human Rigths Watch/Americas e o CEJIL. A vinculação de ambas aos centros de poder anglo-americanos é facilmente constatada com uma consulta aos seus patrocinadores. O sítio do CEJIL, por exemplo, lista entre eles: a Federação Internacional de Planificação da Família (IPPF, na sigla em inglês), organização criada pela família Rockefeller para promover o controle demográfico; a Fundação Nacional para a Democracia (NED), órgão oficial do governo estadunidense; as fundações MacArthur e Ford; e a Fundação para a Promoção de uma Sociedade Aberta (FOSI), do megaespeculador George Soros.

O fundador e presidente do CEJIL, o advogado chileno José Miguel Vivanco, é um veterano integrante do aparato supranacional dos direitos humanos, tendo afiado as garras em anos de militância na Human Rights Watch/Americas.

Em agosto de 1995, as duas entidades apresentaram à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), uma petição, denunciando o Estado brasileiro pelo desaparecimento de combatentes da Guerrilha do Araguaia, na campanha militar de 1972-1974. Em dezembro de 2010, a CIDH divulgou a sua sentença, condenando o País e "ordenando" ao Estado uma série de providências que, cumpridas à risca, implicariam na total subordinação do sistema judiciário nacional a uma estrutura jurídica supranacional orientada por conceitos ideológicos totalmente alheios ao ordenamento histórico de nações soberanas.

Sem surpresa, a decisão da CIDH foi aplaudida pelos representantes dessa corrente de ação encastelados no Governo Federal, como o então secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, atual secretário nacional de Justiça, ambos defendendo a absurda tese de que a legislação supranacional se sobrepunha à decisão anterior do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a irrevogabilidade da Lei da Anistia.

Embora, na ocasião, o Governo Federal tenha reagido à decisão, por intermédio de firmes declarações do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, e, posteriormente, rechaçado de forma ainda mais contundente a sentença da CIDH contra o projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, o atual imbróglio se encaixa à perfeição na agenda intervencionista supranacional que o órgão integra.

Silvia Palácios é Jornalista.

Artigo transcrito do Blog Alerta Total de 10 de março.

Comento;
Excelente artigo que faz uma radiografia precisa e concisa dos interesses internacionais que estorvam o pleno desenvolvimento brasileiro. São agentes internos e externos, que, consciente ou inconscientemente, estão impedindo que o Brasil alcance um posicionamento internacional coerente com sua vocação geopolítica.
Ao leitor deste pequeno e despretensioso blog eu peço que leia o artigo com muita atenção, analise, compare com os acontecimentos, não acredite nas interpretações da grande mídia, faça suas próprias avaliações e questione-se: por que um país com tantas vantagens comparativas oscila tanto no caminho do pleno desenvolvimento?
Não conheço a jornalista Silvia Palácios, mas transmito os meus cumprimentos pelo artigo, pela quantidade de informações colocadas no texto, a forma inteligente como o construiu, demonstrando conhecimento, competência profissional e, sem dúvida, muita coragem. O Brasil agradece o seu comprometimento com a verdade. Deus a proteja.
Ao jornalista Jorge Serrão nossos agradecimentos por postar no seu excelente Blog "Alerta Total" o presente artigo e permitir, como sempre, sua divulgação.





quarta-feira, 7 de março de 2012


ESTA CONTA TAMBÉM É SUA


Percival Puggina


Você lembra de já ter assistido a algum filme estrangeiro cuja projeção fosse antecedida pela apresentação de uma lista de patrocinadores? Eu não. O que se vê são os nomes de uma ou mais empresas produtoras que uniram esforços e recursos para fazê-lo. Filmes são concebidos como investimentos de cuja comercialização é esperado um ganho financeiro. Quando dá certo os produtores ganham dinheiro. Quando dá errado, têm prejuízo. Se os espectadores gostam, patrocinam o lucro na proporção dos ingressos que adquirem. Quando não gostam, o prejuízo fica com quem avaliou mal o negócio ou não o conduziu bem.


No Brasil não é assim. Aqui, qualquer coisa com som é música, qualquer texto é literatura, qualquer lixo filmado é cultura e tudo cabe sob o guarda-chuva das leis que incentivam atividades culturais. Se por escrever isto eu for acusado de discricionário e preconceituoso, que o seja. O padrão cultural do povo brasileiro rampa abaixo e nós gastando dinheiro escasso para financiar coisas como "Lula, o filho do Brasil"? Cultura? Fala sério!


Pois bem, essas leis permitem a captação de recursos junto a contribuintes que se disponham a orientar para tais atividades uma fração dos tributos que deveriam recolher. A produção cinematográfica - embora voltada dominantemente para o lazer - está abrangida por essa possibilidade. A maior parte dos filmes vira, então, um negócio sem risco, assumidos os custos, no todo ou em parte, pela sociedade pagadora de impostos. É o melhor dos mundos. Os mais reverenciados patrocinadores de eventos culturais são as poderosas empresas estatais cujas marcas frequentam as salas de projeção posando de mecenas com o dinheiro do povo. E não requer muito esforço intuir sobre a natureza dos alinhamentos e comprometimentos que presidem as concessões de tais incentivos. Andando por esses critérios e caminhos, o dinheiro do contribuinte é deslocado para aplicações que ele jamais autorizaria. Seus critérios convergiriam para prioridades situadas vários degraus acima da indústria do lazer.

Mas a coisa vai além. Nos anos 90, surgiram no cenário nacional as agências reguladoras. São pessoas jurídicas de direito público, geralmente em forma de autarquias, concebidas para regular a atividade de setores estratégicos da economia que, ou são totalmente atribuídos à iniciativa privada, ou dela têm forte participação. No dia de sua criação, dormem assim, sobre o travesseiro das melhores intenções. Mas já na manhã seguinte acordam como objeto de disputas partidárias, transformadas em moeda de troca no balcão dos apoios políticos. Algumas dessas agências reúnem representações do poder público, das empresas envolvidas na atividade regulada e dos consumidores. Mas não me ocorre uma só onde os interesses deste último, pagador de todas as contas, tenha a devida relevância.


A Agência Nacional do Cinema (Ancine) é uma agência reguladora. Desde 2001, convergem para ela a regulamentação e o controle das proteções que regem a produção e exibição de filmes nacionais no Brasil. Entre as providências adotadas pela Ancine - com amparo legal, diga-se de passagem - está a exigência de um determinado percentual de projeções destinado a filmes brasileiros nos cinemas e na televisão, inclusive nas tevês a cabo. Ou seja, já não basta usar recursos do contribuinte para financiar o que dá lucro e indenizar o que dá prejuízo. Em nome da proteção à "cultura" nacional, regulamenta-se a atividade de um modo que obriga o exibidor a abdicar de uma parte de seu empreendimento. É imposta a ele a tarefa de tentar vender o que poucos querem comprar, porque se houvesse público interessado, maior ainda seria o interesse do exibidor em comercializar o produto. E dá-lhe pornochanchada na tevê a cabo.


Não sou dos que creem que o mercado resolve tudo. Mas isso que pretendem para os filmes brasileiros é o mesmo que obrigar todas as lojas de roupas no Rio Grande do Sul, por exemplo, a reservar um espaço das vitrinas e prateleiras para exibir bombachas, guaiacas e apetrechos do gênero.


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* Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.


Recebido por e-mail.






DILMA E MANTEGA CULPAM LULA PELOS 2,7% DO PIB DE 2011! ADOTAM O SUB-NEO-COLONIALISMO!


1. Dilma e Mantega tocaram o mesmo realejo. A economia brasileira cresceu somente diminutos 2,7% em 2011 por culpa da crise econômica mundial. Mantega também lembrou da inflação. A crise aflorou em 2008. Lula disse que era só uma marolinha. Pelo que diz a Dilma, é muito mais do que isso. Pelo que diz Mantega, a inflação é uma herança maldita. E esse mesmo 'tsunami' de liquidez que ela reclama foi o que empurrou a economia brasileira. Antes eram os derivativos. Os juros brasileiros só fazem atrair esse 'tsunami'. E se há mesmo essa nuvem de liquidez, Dilma não deveria reclamar, pois de outra forma a recessão europeia seria muito maior com os reflexos recitados.

2. Realmente. Lula respondeu à crise com um keynesianismo juvenil. Um dólar baixo e um juro alto lubrificaram de dólares as reservas brasileiras em divisas e ajudaram a conter, por um tempo, a inflação. Mas o tempo passa e o Disney-dólar fez a festa dos turistas brasileiros e abriu um rombo nas contas correntes do balanço de pagamentos. E a combinação do Disney-dólar e do consumismo arrasou a competitividade da indústria brasileira que, em 5 anos, passou de um superavit de 18 bilhões de dólares para um déficit de 50 bilhões de dólares. E com um pé eleitoral no acelerador keynesiano, a economia -dopada- cresceu 7,5% em 2010.

3. E agora vem a conta, na forma de inflação, estrangulamento crescente nas contas correntes e a indústria brasileira de joelhos. Mas Dilma não pode reclamar, pois ela é esse próprio processo e meta eleitoral. E está numa cama de gato: se baixar os juros para um nível pelo menos chileno, pode ser que a saída de capitais fluídos seja antecipada e acelerada. A política econômica do binômio Lula-Dilma é sub-neo-colonial. Ou seja: exportar matérias primas e importar produtos industrializados.

4. Vergonhosamente, o que cabe, agora, a Dilma é romper o acordo automotivo com o México, pedir ao vice-presidente da China que reduza as exportações e programar uma conversa com Obama para que este ajude a corrigir nossa balança comercial com os EUA, que passou a ser deficitária. Colonialmente, de joelhos.

5. Sugestão deste Ex-Blog. A projeção para o Brasil é muito pior para 2013, com o refluxo de dólares. É bom esquecerem a eleição de 2012 e adotar as medidas que a economia brasileira precisa em relação aos juros, em relação ao câmbio, ao custo Brasil de infraestrutura, etc. e tal.

Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 7 de março.



sábado, 3 de março de 2012


CHEGA DE REVANCHISMO


Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Uma pena que estejamos ainda com uma agenda inútil, marcada por ressentimentos. Quando, na verdade, se deveria estar unindo o país na luta pela consolidação da estabilidade na economia, com investimentos urgentes na infraestrutura, na educação e na saúde. Sem falar na segurança pública.

Claro que esses temas na pauta dos ressentidos estão todos relacionados ao revanchismo, a tentativa de se reescrever a história recente do Brasil. Mas temos uma anistia com 35 anos, ampla, geral e irrestrita, como pedida. Depois, é claro que os anistiados eram, na sua maioria, pessoas ligadas ao comunismo internacional, com passagem por Cuba e pelo Chile de Allende. Não queriam trocar o autoritarismo
militar
?com apoio popular? pelo liberalismo. Queriam mesmo uma ditadura comunista. Não vamos cobrar estes equívocos, mas também não podemos aceitar o discurso de ?coitadinhos?, milhares já pagos em dinheiro pelas suas opções do passado, que está ficando até chato. A anistia perdoou até quem matou e confessou em livros e entrevistas.

Houve vítimas nos dois lados. Ponto final.

Todos os presidentes desde Sarney só podem elogiar a postura correta e discreta dos nossos militares. Muitos são até incompreendidos pelos companheiros devido a tolerância com as investidas desse verdadeiro? sindicato da mentira e do ódio? a martelar infâmias contra a corporação.
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Texto completo em:

http://www.aristotelesdrummond.com.br/chega_de_revanchismo.asp



sexta-feira, 2 de março de 2012

VEJA NO QUE DEU A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO RIO -CAPITAL E ESTADO!


1. Ministério da Saúde - Índice de Desempenho do SUS (IDSUS 2012) avalia 24 indicadores e ajuda governo federal, estados e municípios a qualificarem atendimento de saúde. Média do BRASIL: 5,47!

2. ESTADOS! "IDSUS-2012": S. Catarina 6,29 \ Paraná 6,23 \ Rio Grande do Sul 5,90 \ Minas Gerais 5,87 \ Espírito Santo 5,79 \ Tocantins 5,78 \ S. Paulo 5,77 \ Mato Grosso do Sul 5,64 \ Roraima 5,62 \ Acre 5,44 \ Alagoas 5,43 \ Rio Grande do Norte 5,42 \ Bahia 5,39 \ Sergipe 5,36 \ Piauí 5,34 \ Pernambuco 5,29 \ Goiás 5,26 \ Maranhão 5,20 \ Ceará 5,14 \ DF 5,09 \ Mato Grosso 5,08 \ Amapá 5,05 \ Amazonas 5,03 \ Paraíba 5,00 \ Estado do Rio de Janeiro 4,58 \ Rondônia 4,49 \ Pará 4,10.

3. CAPITAIS. "IDSUS-2012": Vitória 7,08 \ Curitiba 6,96 \ Florianópolis 6,67 \ Porto Alegre 6,51 \ Goiânia 6,48 \ Belo Horizonte 6,40 \ Palmas 6,31 \ São Paulo 6,21 \ Campo Grande 6,00 \ São Luís 5,94 \ Recife 5,91 \ Natal 5,90 \ Salvador 5,87 \ Boa Vista 5,76 \ Teresina 5,62 \ Manaus 5,58 \ Rio Branco 5,56 \ Cuiabá e Aracajú 5,55 \ Porto Velho 5,51 \ João Pessoa 5,33 \ Fortaleza 5,18 \ Macapá 5,10 \ Brasília 5,09 \ Maceió 5,04 \ Belém 4,57 \ RIO 4,33 \

4. Diferentes níveis de atenção (básica, especializada ambulatorial e hospitalar e de urgência e emergência), verificando como está a infraestrutura de saúde para atender as pessoas e se os serviços ofertados têm capacidade de dar as melhores respostas aos problemas de saúde da população.

5. Detalhe dos itens levantados.

Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 2 de março.


Os detalhes da vida


Após adquirir minha primeira motocicleta, cerca de vinte anos atrás, quando achei que já tinha juízo suficiente para adquirir uma, nos finais de semana me aventurava em minhas primeiras viagens, até as cidades mais próximas, iniciando com as que estavam a 20, depois 50, 100, 200 quilômetros de distância.

Eram passeios totalmente descompromissados, sem nada para fazer no destino, hora para partir ou retornar. Mal chegava a um lugar já voltava, só interessado na liberdade, no ar batendo no corpo e nas sensações que só quem já viajou de moto conhece.

Como diferença marcante entre as viagens de carro e de moto, o que mais me chamava à atenção eram os detalhes. Mesmo em caminhos por onde já havia passado dezenas de vezes de carro, começava a enxergar árvores, desvios, entradas, topografias, paisagens e detalhes que nunca havia percebido.

Esse talvez seja um dos motivos que mais explique a paixão dos que gostam de viajar de moto. Além das sensações, enxerga-se muito mais do que quando estamos de carro, talvez pelo enclausuramento provocado pela própria estrutura do carro, as colunas, os vidros fechados e a música, que praticamente nos isolam do que se passa do lado externo.

Enganam-se os que acham que os motociclistas são loucos, que correm demais, usam drogas, arrumam brigas e coisas do gênero. Isso é coisa de filme americano, de bandos de velhos arruaceiros, que andavam em bandos com suas motos, arrumando confusões e amedrontando todos por onde passavam, mas isso não existe por aqui.

Existem, é claro, diversos tipos de motocicletas e usuários de diversas idades, cultura e educação, que delas se utilizam de formas distintas, mas basta observar um pouco para percebermos que "loucuras" com motos só são realizadas pelos motoboys, com motos pequenas, que realizam verdadeiro zigue-zague no trânsito ou pelos jovens que possuem motos esportivas enormes, mais "tensas", que fazem barulho, dão grandes aceleradas e atingem velocidades enormes em apenas uma quadra de onde partiram, disputam arrancadas em ruas e avenidas, correm muito e morrem bastante.

Quem gosta de viajar de moto raramente anda na cidade e se anda, é muito lentamente, curtindo sua máquina. São os que já possuem os cabelos brancos, com estabilidade financeira suficiente para investir entre cinquenta e cem mil dólares em uma dessas máquinas do tipo Custom, Big Trail ou Touring, para passear, viajar, enfim, aproveitar a vida em seus momentos de laser, e com elas partem, só com as esposas, ou em companhia de vários outros casais, em busca de lugares tão distintos quanto uma cidade próxima, ou até outro país, em viagens que podem durar dias, semanas - como uma de vinte e oito dias que realizei até o Chile -, ou meses.

Pressa é o que menos possui quem se dispõe a realizar uma viagem dessas. Vamos parando, conhecendo, tirando fotografias, descobrindo locais, vegetações, animais, alimentos, pessoas, idiomas e culturas diferentes da nossa. A obrigatoriedade de chegar a determinado local em data e horário pré-determinado nunca existiu nessa minha viagem. Não havia nenhum hotel reservado. Chegando a uma cidade é que procurava aposentos e os centros de informações públicas, onde obtinha as dicas de locais turísticos. Se gostasse, ali permanecia por um, dois ou três dias, passeando, conhecendo. Caso contrário, partia no dia seguinte, sem hora para acordar ou para a saída.

As experiências vividas em viagens assim jamais serão esquecidas, pois são maravilhosamente ricas em detalhes. Os que viajam de carro não percebem as mudanças de ares, da temperatura, dos cheiros dos campos e matas, mas de moto, sentem tudo em sua plenitude.

Enxergar o que existe entre dois pontos, as paisagens e detalhes que poucos viram, é a grande diferença entre viver a vida ou passar por ela.


João Bosco Leal www.joaoboscoleal.com.br

*Jornalista, escritor, articulista político e produtor rural.


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