segunda-feira, 6 de junho de 2011



RIO DE JANEIRO


Aileda de Mattos Oliveira* (5/6/2011)


O governador do Estado não deve assistir às entrevistas que concede às emissoras de televisão. Se isto acontecesse, estaria preocupado com a sua imagem de flacidez política, consequência da sôfrega necessidade de agradar as cabeças coroadas de Brasília. Certamente, recorreria a um analista para um diagnóstico do seu problema de servilismo agudo, de bajulação repulsiva, de despersonalização vergonhosa que lhe turva a fala e desconecta o raciocínio. Tornar-se ínfimo diante do poder maior, é uma constante deste despreparado Executivo.

O governo não tem competência para estabelecer diretrizes de ação. Bem-servido estaria se solicitasse a ajuda dos carnavalescos, mestres na elaboração de cenários alegóricos e também futuros. Parece gracejo, porém, é a realidade deste Estado e desta Cidade maldirigidos, ou carnavalescamente dirigidos, já que o prefeito se iguala na arte de nada fazer em prol da população.

Ambos são exímios doadores de dinheiro (público? privado?) a artistas estrangeiros e desfile de modas, que poderiam engrossar, no caso do Estado, o salário dos policiais, bombeiros militares e professores, cujos contracheques, há vários governos, estão vergonhosamente defasados, pela insensibilidade e orquestrada política de desvalorização das Corporações Militares e do Magistério, e consequente desprezo às suas desgastantes atribuições.

O mecenas estadual agraciara Madonna com um auxílio financeiro para a manutenção do site da esperta cantora. Foi seu guia, com a submissa genuflexão, característica dos brasileiros sem respeito próprio. Recebeu-a em seu camarote ou ela no seu, durante os desfiles carnavalescos, quando se deixou filmar numa situação imprópria a um governante de um Estado do porte do Rio de Janeiro. Para consolidar a bajulação nojenta, engrolou um inglês de submundo escocês. Tudo divulgado pela imprensa e sites.

O mecenas municipal faz cortesia com o chapéu do contribuinte, enquanto as ruas do centro da cidade jazem esburacadas, sujas, sarjetas empoçadas com o que restou das sucessivas chuvas, sem nenhum sinal de melhoramento. Contudo, novas arquibancadas serão construídas no sambódromo, no espaço do antigo prédio da Brahma, hoje implodido.

O protetor de artistas estadual esteve à passeio na França, mas rápido retornou ao imperial chamado da Senhora Rousseff. Contrariamente, trancou-se no Guanabara, evitando a representação dos bombeiros, que desde março solicitam-lhe uma audiência para exporem a problemática salarial. Bombeiros e policiais desrespeitados por esta triste e grotesca figura de Excelência ao determinar que participem de passeatas gays, fardados, num acinte às esposas e filhos destes homens, numa ofensa à instituição militar. Homens, que dão a vida por este povo, egoisticamente afastado das reais urgências daqueles a quem exige urgência no atendimento.

Há bolsas para os que nada fazem, há privilégios para as tais minorias, porém, relegam-se ao patamar de miniminorias as Forças Militares Federais, Estaduais e Municipais, o Magistério, a fim de transformá-los em estratos obsoletos da sociedade. Isto, sim, é um ato criminoso. Isto, sim, é um ato discriminatório.

Somente um governo incompetente levaria a briosa Corporação dos Bombeiros Militares a esta situação de implorar que sejam ouvidos. Vivemos numa democracia teórica, abstrata, sem aplicação na vida dos verdadeiros cidadãos.

Esses bombeiros precisam sanar as suas dificuldades para terem a tranquilidade de executar seu trabalho sem os agravos da preocupação com a família. É revoltante não poderem atender a um pedido de seus filhos, por negar-lhe o Executivo Estadual ouvir as suas reivindicações, negar-lhes um aumento de soldo, negar-lhes melhoria de vida.

Não basta uma parte da imprensa chamá-los de heróis nos momentos de fatalidade, nem colori-los nas fotos das capas de revistas. É urgente que sejam remunerados, de acordo com as condições insalubres e perigosas em que atuam e possam levar para casa um sorriso de satisfação pelo trabalho solidário, sabendo que seus filhos e mulheres os receberão felizes. Ganha o Estado, ganha a Corporação, ganha a Família.

O que não pode acontecer é permitirem a infiltração de agentes interessados em desmoralizar o movimento reivindicatório, destruindo viaturas, o próprio público ou desrespeitando superiores. Dessa maneira, virá o descrédito sobre a sinceridade de objetivos, transformando em opositores aqueles que , agora, os defendem;

É isso que os governos estadual e brasílico desejam: a desunião das forças militares; o desrespeito na caserna (lembram-se de 64?), uma nova cilada.

Do povo a que tanto ajudam, não esperem solidariedade, porque o individualismo do brasileiro camufla-se com o falso mito de “homem cordial”, de errônea interpretação.

Caros bombeiros, aprendam, antes de tudo, a votar.

(*Prof.ª universitária, membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.)


Recebido por e-mail.



Um comentário:

Dani Dias disse...

Respeito à longa jornada e idade da Professora Aileda, mas todos os textos que ela faz demonstram certo inconformismo com a atualidade e realidade democrática, pensamentos reacionários e preconceituosos dignos de uma pessoa que resiste a todo o momento que igualdade social é algo que não se deve solucionar. Para essa pessoa, o tempo parou, ou pior, para a professora, melhor mesmo que nem tivesse avançado.

Mas professora, eu digo, o mundo pode até estar de pernas para ar, mas existe hoje uma consciência mundial que as situações sociais sejam igualitárias, ao menos, a grande maioria da população mundial pensa assim, nascer pobre não é nenhum castigo que deve ser perpetuar até o final da existência. Mas infelizmente os grandes grupos de discussão sempre defendem o empreendedorismo capital, sobrando dessa forma, para pessoas comuns praticarem políticas sociais justas. Mas existem, também, grandes personalidades e dirigentes mundiais, pelo simples fato de encarar essa realidade e fazer algo para modificar essas condições injustas e, isso, deve ser reconhecido de uma forma positiva.