A Bíblia proclama que Jesus morreu na cruz uma só vez.
José Reis Chaves
A passagem de Hebreus 9:27 é muito usada erradamente pelos adversários do fenômeno da reencarnação.
Vamos vê-la na íntegra e na sua continuação no versículo 28. “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disso, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.” O autor leva para o cristianismo a ideia judaica antiga de que os sacrifícios são agradáveis a Deus, com o que Jesus não concorda. “Basta de sacrifícios, eu quero misericórdia.” (Mateus 9:13; e 12:7 e 33). A ideia central do autor é a de que os sacrifícios antigos eram frequentes porque eram humanos, mas o de Jesus era um sacrifício divino e, portanto, bastava um só, pelo que Ele morreu na cruz uma só vez como o homem morre uma vez só.
Os sacrifícios de animais jamais foram agradáveis a Deus, menos ainda o foram os dos seres humanos, e, principalmente, não o foi o de Jesus. Os espíritos que gostam de sangue são ainda pouco evoluídos, os quais eram frequentemente confundidos com o Espírito do próprio Deus. Daí o surgimento do que eu chamo de teologia do sangue, o que é um grande erro. O Deus verdadeiro não se deleita com sangue.
E a doutrina de que Jesus é também Deus nos leva a pensar que Deus se sacrificou a si próprio para si próprio! Os teólogos, perdidos com suas doutrinas, dizem que Jesus morreu como homem e não como Deus. Mas eles ensinam também que não se pode separar o lado humano de Jesus do seu lado divino. E, com esse argumento, dizem que Maria é Mãe de Deus (“Theotokos”). A verdade é que Jesus morreu na cruz como homem, porque Ele é de fato um Homem.
Retomando Hebreus 9: 27 e 28, o autor, como vimos, quer ressaltar que Jesus morreu uma vez só, como o homem morre uma vez só, depois do que vai a juízo para receber a recompensa ou a pena, de acordo com a lei de causa e efeito ou cármica (Romanos 14:10), pois a cada um será dado de acordo com suas obras, e ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo. Reforça essa verdade o fato de que a Bíblia fala também no Juízo Final, o que demonstra que o juízo particular mencionado não é definitivo, e isso porque o espírito continua a sua caminhada evolutiva através das reencarnações. O juízo particular é como se fosse um subtotal da fita do caixa de um supermercado, pois é de uma parte da existência do espírito. E o Juízo Final é o total dum ciclo, época da separação do joio do trigo. Mas não é para o mal dos espíritos, mas para o bem deles, pois Jesus não é um demagogo que ensina uma coisa e faz outra, contradizendo o seu ensino. Se Ele disse que não devemos julgar, Ele não vai julgar. E é Dele esta afirmação muito conhecida: “Eu não vim julgar o
mundo, mas salvar o mundo” (João 12: 47), ou seja, todos, mas é claro, não ao mesmo tempo, o que seria injusto. E confiemos em Jesus, pois, como se diz, Ele não vai pisar na bola!
Na visão antropológica semítica da época em que o livro de Hebreus foi escrito, o homem era visto pelo seu lado fenomênico, material ou de barro. E é desse homem que morre uma vez só e que vive também uma vez só, que sai o seu espírito imortal para ressuscitar no mundo espiritual (Eclesiastes 12:7). E, oportunamente, ele ressuscitará na carne de outro homem que nasce, vivificando-o.
Se Hebreus 9: 27 e 28 condenasse a reencarnação, a misericórdia de Deus deixaria de ser infinita!
Obs.: Esta coluna, de José Reis Chaves,é publicada às segundas-feiras no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, e pode ser lida também no site www.otempo.com.br, clicando em “TODAS AS COLUNAS”.
José reis Chaves é autor dos livros: “A Face Oculta das Religiões”, “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) – www.literarium.com.br. Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.
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