segunda-feira, 26 de abril de 2010


BILAC PINTO VIVO


Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Murilo Badaró, grande biógrafo de seus contemporâneos, assina O Homem que Salvou a Republica, biografia de Bilac Pinto, político mineiro que se destacou no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e na Embaixada do Brasil em Paris. O texto do presidente da Academia Mineira de Letras nos faz crer que o Brasil voltou a viver os mesmos debates, perigos e a mesma encruzilhada de quase 50 anos atrás. A diferença é que, quando Bilac alertava a Nação, em 63, éramos a 46ª economia do mundo, reagimos e nos tornamos uma democracia forte , autoritária,austera, que nos levou até a oitava posição, que mantemos até hoje, em vinte anos.

A ameaça da “república sindicalista” vem sendo implantada nos últimos 16 anos, sendo que de maneira partidarizada nos últimos sete. A pressão por reformas que ofendem ao direito de propriedade e à ordem, especialmente no campo, é uma realidade. Na ocasião, eram bravatas de Ligas Camponesas; hoje, é a ação destruidora do MST, impune em tudo que faz, a despeito da lei e do bom senso. Naquela época, o dinheiro da chamada subversão vinha dos países comunistas, onde foram formadas gerações de ativistas políticos e guerrilheiros. Atualmente, os recursos são daqui mesmo, provenientes dos convênios de entidades ligadas ao MST com o poder público. Outra diferença preocupante é que tínhamos vozes como as de Bilac Pinto, Raimundo Padilha, Abel Rafael Pinto, Oscar Correa, João Calmon, Herbert Levy, Anísio Rocha e Dinarte Mariz, entre outros de igual valor e bravura.

Os temas econômicos, o processo de desenvolvimento do país e os avanços sociais têm permitido que os eternos conspiradores revolucionários atuem sem controle, no governo ou na oposição. Mas o fato é que estão minando as bases da democracia. Falta-nos uma voz com embasamento filosófico e ideológico, a cultura e o bom senso que tivemos em 64, em que Bilac Pinto foi um expoente, antes e depois da deflagração da reação democrática.

O livro de Murilo Badaró, ele mesmo personagem desses tempos, nos faz percorrer uma fase da história republicana, em companhia do notável Bilac, fazendeiro, editor, jurista, parlamentar, enfim, um estadista, com as marcas da visão e da coragem. A obra é imperdível para quem quer conhecer e julgar os anos movimentados de nossa vida política, desde o Manifesto dos Mineiros até o final do ciclo revolucionário de 64. Como bem lembra o autor, os que desejam esconder a verdade, os fatos, as realizações e os avanços culturais insistem em lembrar os bastidores da repressão ao terrorismo, em que os fatos são os mesmos em todos os tempos, em todos os regimes e em todos os países.
Este discurso volta para ajustar contas, não com a história, mas com o bolso dos beneficiários. Atitude esta que já encontra repulsa popular e mesmo entre opositores do regime autoritário que vivemos – jamais ditatorial- de vez que a fila de candidatos a receber do Erário é cada vez maior e custa cada vez caro. É a indústria do ressentimento, injusta por excluir vitimas da ação terrorista, inclusive estrangeiros.

A vida de Bilac Pinto, como da maioria de seus contemporâneos, mostra uma classe política preparada, idealista, com coragem e independência. E com verdadeiro espírito publico. Livro que deveria ter uma edição popular, para as escolas mineiras por exemplo, pois é também uma lição de civismo, de uma vida ética, empreendedora e representativa da qualidade do político mineiro.

Murilo Badaró presta um, mais um, imenso serviço a Minas e ao Brasil ao retratar em sua obra homens como Milton Campos, Gustavo Capanema, Jose Maria Alckmin, seu avô Francisco Badaró e agora Bilac Pinto. Que continue assim.


Transcrito da página de Aristóteles Drumond:

http://www.aristotelesdrummond.com.br/

Nenhum comentário: