domingo, 12 de setembro de 2010


USO E ABUSO DO PODER EM NOME DA ANISTIA



Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Como todo brasileiro que tem um mínimo de sensibilidade acha, o poeta e compositor Vinicius de Morais é uma figura admirável. Na mocidade, tive o privilégio de conviver com ele, em conversas pela madrugada no Rio e em Petrópolis, onde ficávamos em grupo num bar modesto chamado “sachinha”, pois ficava aberto a noite inteira e nem portas tinha, numa alusão caricata da boate carioca da moda. Ficava em frente à casa da então mulher do poeta, Lúcia Proença.

Vinicius, diplomata de carreira, optou por se integrar totalmente a musica, a composição, a vida noturna e a atividade intensa, mas rápida, de paixões por mulheres. Sua primeira, Tati, conheci bem logo que me iniciei no jornalismo, em O Jornal, do Rio de Janeiro.

O grande diplomata Pio Corrêa, quando secretário-geral do Itamaraty, teve de, cumprindo seu dever, convocar o diplomata para esclarecer se ele era o mesmo que aparecia numa publicidade da boate Zum Zum, em Copacabana, como responsável por um show de música brasileira. Confirmado, foi-lhe explicado que a carreira diplomática era incompatível com uma atividade profissional permanente, mesmo que musical e fora do horário de trabalho.

Não havia nenhuma conotação política ou ideológica nas medidas administrativas do Ministério das Relações Exteriores. O que ocorreu, por exemplo, com o filólogo Antonio Houaiss, que era homem de esquerda e que, no governo Jânio Quadros, ainda secretário, foi quem votou contra Portugal, na ONU e “com muito prazer”, chocando os seus superiores que se negaram ao ato hostil à pátria-mãe e irmã. Este foi atingido por ato político, seu e do governo da Revolução.

Vinicius de Morais foi um grande divulgador do Brasil, através de sua música e poesia. Um homem do mundo. Merece todas as homenagens, mas esta promoção a embaixador não tem nada com o que fez. São muitos os casos dos que deixaram a carreira para abraçarem outras vocações. Se for pelos serviços prestados, temos de promover a embaixador Marcos Pratini de Morais, que deixou o Itamaraty para ser ministro de Costa e Silva, Médici, Collor e FHC. O senador Artur Virgílio trocou a diplomacia pela política; Álvaro Valle, o sempre saudoso parlamentar e homem de cultura, idem. E, para sermos atuais, o ministro das Cidades, Márcio Fortes, também deixou o Itamaraty. Vinicius declarou – e está tudo publicado – que não tinha vocação para diplomata. E seria difícil realmente imaginá-lo ministro ou embaixador na África ou na América Central.

Não é sem propósito que o TCU, órgão que zela pelos recursos da Nação, anda revendo casos em que, em nome de reparação política, exageros são cometidos. O nosso querido e admirado Vinicius não merece nem uma pensão especial, uma vez que seus herdeiros arrecadam, e muito, com sua grande obra. Indenização por serviços prestados ao país, corretos, inquestionáveis, foram, por exemplo, decretos do então presidente Médici. Homem discreto e de bom senso, sem alarde, concedeu pensão especial às viúvas de dois ex-ministros que não tinham do que viver – a do tenente João Alberto, cuja pensão era de tenente, embora tenha sido ministro e Interventor em São Paulo, entre outras funções de relevo, e Artur de Souza Costa, ministro da Fazenda por quase 15 anos de Getulio Vargas.

O TCU está no caminho correto. Tem suboficial anistiado, que jamais poderia chegar ao oficialato, com pensão de oficial do Exército, numa afronta a tantas famílias enlutadas, desde a Intentona em 35, pela ação sanguinária da esquerda radical. Daqui a pouco, depois de derrotado para o Senado, um dos assassinos do soldado Mario Cozel pode aparecer pedindo uma compensação pelo seu gesto heroico de matar um inocente que prestava seu serviço militar. Que Brasil!!!


Transcrito da página do jornalista Aristóteles Drummond:

http://www.aristotelesdrummond.com.br/

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