NÃO PODEMOS ESMORECER!
Percival
Puggina*
Nos anos 60 a 64, houve uma acirrada batalha ideológica no Brasil. A
política era debatida no campo das ideias e o comunismo ganhava crescente espaço
entre os estudantes. Entidades estaduais e nacionais eram disputadas palmo a
palmo e constituíam imagem visível da Guerra-Fria. Lembro-me que, em fins de
outubro, na sede do R.U. (Restaurante Universitário da UFRGS) as paredes se
cobriam de cartazes e faixas comemorativos do aniversário da Revolução
Bolchevique. Era o outubro vermelho da moçada que se deixara seduzir pelas
arengas de Leonel Brizola, pelo sucesso dos rebeldes de Sierra Maestra e pelo
amplo movimento internacional de solidariedade a Cuba (mal sabiam eles o que
estava tendo início naquela infelicitada nação).
Em 1961 surgiu a POLOP (Organização Revolucionária Marxista Política
Operária), como dissidência do PCB. Em 1962 foi constituída a organização
intersindical CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e, no mesmo ano, nasceu a
Ação Popular, aglutinando a esquerda cristã formada na JUC e na Ação Católica.
Essas e outras organizações, depois de 1964, iriam para a clandestinidade e
dariam origem à uma centena de movimentos e conciliábulos guerrilheiros e
terroristas.
Algumas entidades que surgiram para produzir formação necessária à luta
ideológica e cultural de resistência ao comunismo viveram poucos anos e deixaram
má fama, acusadas de receber recursos financeiros de empresas norte-americanas e
da CIA. Por outro lado, quando o governo Goulart caiu em 1964, acreditaram os
defensores das liberdades democráticas que os perigos do comunismo estavam
afastados e foram tratar da própria vida. Enquanto isso, nos bastidores, ano
após ano, teve sequência o trabalho de infiltração e ocupação de espaços, de
formação de quadros, de organização da massa; continuou o lento e sutil
aparelhamento das instituições de ensino, das cátedras, dos cursos de formação
para o magistério; desenvolveu-se a ocupação das redações dos veículos de
comunicação, do ambiente cultural e dos seminários de formação religiosa. Assim,
quando o país se redemocratizou, estávamos a um passo de dedo para que, em
apenas cinco anos, um partido de massas como o PT já disputasse, com força, a
presidência da República.
Desnecessário falar sobre os 12 anos de governo petista. Nós, que
percebemos para onde ele vem conduzindo o Brasil, não devemos supor que uma
possível derrota do governo nas urnas do dia 26 equivalha ao desmonte da máquina
que está em operação no país, destruindo reputações, manipulando a sociedade,
comprando votos e gerando violência. No governo, o PT desgoverna, na oposição,
não deixa governar.
Portanto, precisamos unir forças e, sem esmorecimento, prosseguir
trabalhando para informar e formar a consciência política da sociedade, dando
vitalidade aos valores de uma sólida democracia constitucional. Sem democratas,
tudo que se consegue é um arremedo de democracia. E as rãs de Esopo logo estarão
pedindo um rei. Uma possível vitória oposicionista em 26 de outubro é apenas o
começo de um trabalho que inicia com meio século de
atraso.
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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo
Pensar+.
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