Tempo de mudanças*
Semana
passada viajava só, pela BR 267, que liga a BR 163 no MS à Rodovia
Raposo Tavares em SP, quando vi alguns carros estacionados dos dois
lados da rodovia. Sem saber do que se tratava diminui a velocidade e vi
várias pessoas saqueando um caminhão baú que estava capotado, fora da
rodovia, na lateral direita da mesma, sentido MS-SP.
Alguns
levavam para seus carros, nas costas, sacos com produtos furtados. Sem
parar, liguei para 191, o número de emergência da Polícia Rodoviária
Federal. Uma gravação dizia: "Você
ligou para o 191, o telefone de emergência da Polícia Rodoviária
Federal. Para sua segurança esta ligação poderá ser gravada e seu número
monitorado. Já iremos lhe atender."
Por
vários minutos ouvia-se uma música até a ligação cair. Foram várias
tentativas, sempre com o mesmo resultado. Como o sinal de celular não é
bom nesse trecho da rodovia, continuei até um novo posto da PRF que
acaba de ser construído, mas sem nenhum policial. Agora com melhor
sinal, tentei novamente, mas sem sucesso. Só quando cheguei a outro
posto da polícia rodoviária - já a 140 km de distância de onde ocorria o
saque -, pude comunicar o fato aos três policiais presentes no interior
do escritório daquele posto.
Ao
dizer que já havia ligado oito vezes para o número 191 sem sucesso,
fiquei ainda mais estarrecido quando os mesmos disseram que eles também
estavam tentando se comunicar com a central em Campo Grande e que para
isso utilizavam o mesmo número, mas também não estavam conseguindo e que
isso era muito comum, pois o sinal da comunicação com a central do
número 191, localizado na capital do estado, era muito ruim.
Durante
todo o resto da viagem pensava na infinidade de possibilidades do que
poderia ocorrer em uma rodovia e de como esse telefone - que
teoricamente deveria ser o que melhor funcionaria -, poderia salvar
vidas.
Esse
é um simples exemplo do país em que vivemos. Com toda a tecnologia hoje
disponível, não conseguimos sequer equipar nossas rodovias com o que é
muito mais importante inclusive que sua construção e conservação: um
meio eficiente de se comunicar urgentemente com quem poderia ajudar os
que por algum motivo pedem socorro.
Pessoas
clamando por esse socorro estão morrendo nas portas dos postos de saúde
e hospitais sem serem sequer atendidas. Crianças estão nas ruas sendo
aliciadas por traficantes, viciando-se em crack e outras drogas
simplesmente porque o governo é incapaz de mantê-las em escolas,
preparando-as para um futuro melhor.
Batalhões
praticamente inteiros de policiais, inclusive com seus comandantes,
estão sendo presos pela Polícia Federal, por estarem envolvidos com os
mais diversos tipos de corrupção, de proteção a criminosos e até os mais
violentos assassinatos a sangue frio, a mando de traficantes.
O
Brasil precisa, urgentemente, ser passado a limpo, desde os garis que
ganham pouco e trabalham muito, a políticos que ganham e roubam muito,
sem nada fazer pelo país. E o início dessa faxina é não eleger nenhum
político, de vereador a presidente da república, que não seja totalmente
integro.
Os
jovens precisam ser incentivados a se interessar por política, pois um
grande país precisa de raízes sólidas, uma vez que, sem elas, sequer as
árvores resistem à menor ventania.
Só mudaremos o país se, em busca do bem comum, encararmos as nossas realidades e lutarmos por todas as alterações necessárias.
*Jornalista, escritor e empresário
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