Editorial do jornal “O Dia” do Rio de Janeiro, edição de 2 de abril de 1964
O Sr. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, poderá assumir ainda hoje a Presidência da República, em virtude do que dispõe o artigo 79 parágrafo 2o da Constituição, que declara: - Vagando os cargos de Presidente e Vice Presidente da República, far-se-á eleição 60 dias depois de abertas a última vaga. Se as vagas ocorrerem na segunda metade do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita 30 dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma estabelecida em lei. Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período dos seus antecessores.
Em conseqüência, o Sr. Ranieri Mazzilli deverá exercer a Presidência até a posse do novo presidente, a ser eleito no dia 1° de maio próximo pelo Congresso Nacional. “Em face da absoluta normalidade reinante na cidade com a cessação dos motivos que a determinaram, terminou à zero hora de hoje a greve geral decretada terça-feira. Todos deverão retornar tranqüilamente ao trabalho, evitando, contudo, aglomerações públicas nas ruas. Somente os bancos ainda permanecerão fechados, hoje e amanhã, em virtude de decreto”.
Brasília, 1° abril - Até às 22 horas de hoje o Sr. João Goulart ainda se encontrava na Granja do Torto, nesta capital, em companhia de sua esposa e filhos.
No aeroporto militar, achava-se, pronto para decolar a qualquer instante um "Coronado", moderno jato da Varig, que tanto poderia se dirigir para Buenos Aires como para a Espanha, segundo afirmam fontes ligadas à família presidencial.
Após chegar a Brasília, às 15 horas, o Sr. João Goulart esteve no Palácio do Planalto uns 15 minutos, fechado em seu gabinete, retirando-se depois para a Granja do Torto, onde recebeu poucas pessoas, uma delas o deputado Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. Pessoas, que privam com o Sr. Mazzilli, afirmam que este ouviu do Sr. João Goulart a declaração de que, antes de partir de Brasília, lhe transmitiria o cargo de Presidente da República. Outras fontes adiantam que o Sr. João Goulart, durante à tarde, esteve redigindo o documento de renúncia, que será enviado ao Congresso de Porto Alegre, para onde irá às próximas horas “.
Porto Alegre, 1° de abril - O Sr. João Goulart, cerca das 23 horas, chegou a esta capital em companhia de sua família e do Sr. Darci Ribeiro. Antes de embarcar em Brasília, o Sr. João Goulart conferenciou novamente com o Presidente Ranieri Mazzilli." (...)
Às treze horas o Sr. João Goulart deixava o Rio, indo para Brasília e, pouco depois, a Cadeia da Liberdade anunciava que o Sr. Goulart havia partido num avião da Varig para destino ignorado. Todos os comandos militares haviam aderido ás tropas do general Castelo Branco. Em Recife soldados do IV Exército cercaram o Palácio do Governador e prenderam o Sr. Miguel Arrais, por ordem do general Justino Alves.
O ministro Lafaiete de Andrade enviou emissário a Minas para decretar solidariedade ao Supremo Tribunal Federal à revolução.
Às 16 horas, foi lida esta ordem, firmada pelo general Castelo Branco:
Que as tropas do I Exército cessem todas as operações e voltem aos quartéis.
Era o fim da resistência e a vitória da Revolução.
As autoridades civis e militares estão lembrando a toda a população que estão em vigor as leis e os códigos. Os culpados por atos condenáveis serão punidos. Aconselham que a população se abstenha de participar de aglomerações e movimentos coletivos. Avisam ainda que a normalidade voltou ao País e cessaram, imediatamente, todos os movimentos grevistas.
Dezenas de automóveis trafegaram pelo centro da cidade, tocando suas buzinas, em sinal de alegria pela vitória da democracia em todo o País. As estações de rádio e televisão, que estavam sob censura, iniciaram suas transmissões normais, pouco depois das 17 horas. Os contingentes de fuzileiros navais que ocupavam as redações de alguns jornais foram recolhidos aos quartéis.
Por volta das 17,15, o Forte de Copacabana anunciava, com uma salva de canhão, a aproximação das tropas do general Amauri Kruel, que atingiria o Estado da Guanabara às últimas horas da noite de ontem.
A população de Copacabana saiu ás ruas, em verdadeiro Carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento. (...).
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