domingo, 29 de agosto de 2010


CADA VINHO NUMA PIPA


Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

Fico estarrecido com os equívocos cometidos pelos chamados “cientistas políticos”. Estes demonstram pouca intimidade com a história republicana e desinformam os mais jovens, que buscam se orientar para melhor entender este Brasil surpreendente.

Nessa campanha eleitoral, em que tudo indica os Democratas sairão menores, assim como os tucanos, apesar de vitórias significativas em São Paulo e Minas Gerais, já se fala na fusão dos dois partidos como fato natural. Ora, anormal tem sido a aliança de ambos, uma vez que os Democratas são tratados como aliados de segunda classe por ter origem diferente. No entanto, vieram, em sua maioria, do PDS e, antes, da ARENA com exceção dos mais jovens por motivo de idade. Este, inclusive, foi o motivo da escolha do deputado Índio da Costa para compor a vice na aliança, pois o candidato tucano teria condicionado a que o indicado não tivesse servido a partidos da “ditadura”. Dessa maneira, eliminou até o deputado José Carlos Aleluia, um dos grandes nomes do Congresso Nacional e que Serra tão bem conhece. Aliás, conhece, estima e aprecia. Mas não perdoa. A aliança entre os dois partidos só existiu de fato em função da personalidade conciliadora de FHC, que pode ser, às vezes, fraco e omisso, só não é homem de rancores, tem grandeza na alma. E o seu vice foi o impecável Marco Maciel.

O grande partido de centro pode surgir é do PP, agregando 80% oriundos do Democrata, 20% dos tucanos e 80% do PTB. Seria uma bancada de mais de 150 deputados federais e poderia dar equilíbrio ao governo petista, que pode sofrer pressões de seus radicais. O PMDB continuará a ser um partido dividido e sem definição ideológica, mas sem aderir a aventuras. Outros estarão entre o centro e a esquerda, como o PR, PRB, PV, ficando a esquerda com PT, PC do B e PSB e os radicais no PSOL. Quem vai sobrar é o tucanato de esquerda, paulista, que ficará com o PPS. O PSDB mineiro, certamente, não ficará com a esquerda que impôs a candidatura desastrada de Serra e, por ter quadros jovens, voltados para o futuro, como o seu campeão de votos Rodrigo de Castro e o veterano e, talvez mais respeitado parlamentar brasileiro, Bonifácio Andrada. Pela dimensão e liderança de Aécio Neves, que vem se revelando um JK redivivo, na cordialidade e no dinamismo, caberá a ele liderar um novo e forte partido. E mais os governadores eleitos Geraldo Alckmin e Antonio Anastásia.

Com o perfil do Congresso a ser eleito, não existe perigo de mudanças radicais que inquietem o Brasil. O Parlamento e a imprensa livre garantem a democracia. A reforma partidária, no bojo da política, é inevitável e deve limitar os partidos a um máximo de cinco, com pelo menos 5% do Congresso, ou seja, uma bancada, entre deputados e senadores de cerca de 30 parlamentares.

Dilma, eleita, precisará mesmo de um apoio de forças moderadas para governar em paz e não entrar no caminho das provocações. Precisa atentar que a maioria que trabalha e produz, nos campos, nas indústrias e nos serviços, estão sempre acossados pelo intervencionismo ou pela ação agressiva do fisco. E ela sabe que para atrair investimentos, o caminho é o da moderação e do realismo. O que parece que as classes médias entenderam e estão engrossando suas fileiras.

Transcrito da página do jornalista Aristóteles Drummond:

http://www.aristotelesdrummond.com.br/

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