PASSARINHO EXEMPLAR
Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro
Jarbas Passarinho é um exemplo de longevidade ao serviço do país, ainda opinando e emprestando sua vasta experiência, aos 92 anos. Trabalhou na Petrobras no início das pesquisas na Amazônia e teve oportunidade de conhecer o famoso geólogo americano Walter Link, sobre quem deu um belo depoimento em seu livro de memórias. Oficial do Exército, serviu na região em que nasceu. Acreano, foi governador, exerceu mais de um mandato de senador pelo Pará, foi ministro em diferentes governos e em diversas pastas. É o último de um grupo de políticos chamados “anfíbios” por unirem a carreira militar com a vida política.
O presidente Castelo Branco, homem muito escrupuloso, constrangido pelo interesse nacional na ocasião exigir um regime autoritário, teve a preocupação de criar as restrições à presença militar na política e até mesmo em funções públicas. Limitou tempo de afastamento a dois anos – o que levou para a reserva uma safra de notáveis como Mario Andreazza, César Cals e Haroldo Correa de Matos. Antes de 64, a presença militar na política era usual. O Rio de Janeiro, tanto a capital federal como o antigo Estado, reunia lideranças expressivas oriundas das Forças Armadas. A capital chegou a eleger, nos anos 50 e 60, três senadores militares – Gilberto Marinho, Caiado de Castro e Alencastro Guimarães. Na Câmara Federal, Juarez Távora, Amauri Kruel, Menezes Cortes e tantos outros. No Estado do Rio, Amaral Peixoto, sua maior referência durante meio século, era oficial de Marinha.
Jarbas Passarinho acabou se constituindo na mais forte fonte para estudos sobre o chamado período militar com seus livros e artigos. Pesquisador, homem de grande cultura geral, leitor voraz, foi dele a observação de que a chamada “luta armada contra a ditadura” nada tinha de democrática; era radicalismo e totalitarismo no mais alto grau. E foi buscar nos livros de Daniel Aarão Reis e Jacob Gorender, dois sinceros marxistas, a observação de que a luta era pela “ditadura do proletariado”, recomendando a leitura de Combate nas Trevas, de Gorender.
Passarinho está para as questões políticas ligadas ao movimento de 64, como Roberto Campos, para os assuntos relacionados a economia. Ambos brilhantes. O primeiro, sobre a questão das gratificações aos anistiados, especialmente os que antes do beneficio já viviam muito bem e com sucesso, recorreu a Millôr Fernandes, que definiu os que buscaram a tal compensação como os que “da luta fizeram um belo investimento”.
Temos perdido grandes figuras que ajudavam a subsidiar estudiosos com seus depoimentos, muitos publicados na imprensa. Murilo Badaró, líder da banda do PSD na Arena mineira, Aécio Cunha, deputado, filho e genro de deputados; Oscar Dias Corrêa, que se afastou da Revolução por fidelidade ao Direito, mas nunca formou na oposição; o senador Romeu Tuma, que era um arquivo impressionante de seus tempos de delegado do DOPS, não se sabendo se deixou algo escrito para publicação depois de sua morte, entre outros.
Enfim, Jarbas Passarinho, em sua “gloriosa idade”, é um patrimônio nacional. Restam poucos , como o ilustre Rondon Pacheco, de significativa militância política e operosa administração no governo de Minas. E, se o Brasil viesse a precisar de um Conselho de Sábios, Passarinho teria de estar necessariamente como respeitado testemunha da história.
Transcrito da página do jornalista Aristóteles Drummond:
http://www.aristotelesdrummond.com.br/
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