SEMPRE ENGANANDO OS BOBOS.
Percival Puggina
Acho curioso o modo como
por vezes são levados os debates. Se eu criticar os Estados Unidos
pela guerra no Iraque ou pelo que acontece na prisão de Guantánamo,
ninguém na face da terra vai me cobrar uma crítica ao regime
cubano. Ninguém. Todos aceitarão que exerço um direito natural de
opinião. Mas se disser qualquer coisa sobre a miséria, o
totalitarismo e a opressão que pesa sobre a sociedade cubana
imediatamente se forma fila para cobrar posição sobre abusos
praticados pelos EUA. Entenderam? Junto à intelectualidade
brasileira, para falar mal do comunismo tem que pagar pedágio.
Será o comunismo, como
proclamam, uma utopia, uma ideia generosa? Seus 100 milhões de
cadáveres devem ficar se revirando na cova. Foi um ideal alheio que
lhes custou bem caro! Infelizmente mal conduzido, amenizam alguns
companheiros. Que tremendo azar! Uma ideia tão generosa e não
produziu um caso medíocre que possa ser exibido sem passar vergonha.
Durante um século varreu com totalitarismos boa parte da Ásia e da
África, criou revoluções na América Ibérica, instalou-se em Cuba
e não consegue apresentar à História um único, solitário e
singular estadista. Que falta de sorte! Tão generoso, tão ideal,
tão utópico, e nenhuma coisa parecida como democracia para botar no
currículo. E há quem creia que ainda pode dar certo.
Quanto ao sistema
econômico que ficou conhecido como capitalismo (que não é sistema
político nem ideologia), eu afirmo que seu maior erro foi aceitar
conviver com uma designação deplorável. Contudo, chamem-no assim,
se quiserem, embora, a exemplo de João Paulo II, eu prefira
denominá-lo "economia de empresa". Suas vantagens sobre um
modelo de economia centralizada, estatizada, são irrefutáveis na
teoria e certificadas pela prática dos povos. É um sistema que não
foi concebido por qualquer intelectual. É um sistema em construção
na história, muito compatível, também por isso, com a democracia.
Promove a liberdade dos indivíduos e a criatividade humana.
Reconhece a importância do mercado. A maior parte dos países que
adotam esse sistema atribui ao Estado, em sua política e em seu
ordenamento jurídico, a tarefa de zelar pelo respeito às regras do
jogo em proteção ao bem comum. Aliás, quem quiser organizar as
coisas desconhecendo a autonomia
do econômico,
submetendo-o a determinações que contrariem o que é da natureza
dessa atividade (lembram dos tabelamentos de preços?) vai se dar
mal. Vai gerar escassez, câmbio negro, fome. Digam o que disserem os
arautos do fracasso do sistema de economia de empresa em vista da
crise que afeta alguns países, os embaraços deste momento só se
resolverão com atividade empresarial, comércio, pessoas comprando,
indústrias produzindo, pesquisa e investimento gerando, expandindo e
multiplicando a atividade produtiva.
Outro dia, nas redes
sociais, alguém acusou o capitalismo de haver matado milhões. E não
deixava por menos. Dezenas de milhões! O sistema? Onde? O
capitalismo pode não resolver muitos casos de pobreza. Mas essa
pobreza sempre terá sido endêmica, cultural, estrutural, de causa
política. Não se conhecem sociedades abastadas que tenham
empobrecido com as liberdades econômicas. Tampouco confundamos
economia livre, de empresa, com colonialismo ou mercantilismo.
Qualquer economia que queira prosperar e realizar desenvolvimento
social sustentável vai precisar do empreendedorismo dos
empreendedores, da geração de riqueza e de renda, e de coisas tão
desejáveis quanto produção e consumo, compra e venda, lucro,
salário e poupança interna.
Quem quiser atraso vá
visitar os países que ainda convivem com economias centralizadas:
Coreia do Norte e Cuba, onde só o armamento da polícia e das forças
armadas não é sucata. Ali se planta com a mão e se mata lagarta
com o pé. E o povo vive da mão para a boca, prisioneiro do "ideal"
generoso que alguns insistem em impingir aos demais.
O Brasil vem sendo
governado por socialistas e comunistas há mais de uma década.
Embora não ocultem, no plano da política, as intenções
totalitárias que caracterizam sua trajetória, num sentido geral vêm
respeitando os fundamentos do sistema econômico no qual ainda
engatinhamos. E, algo que muito os agrada, vão extraindo dividendo
político de seus resultados. Mas procedem com indisfarçável
esquizofrenia. Agem de um modo, falam de outro e vão enganando os
bobos.
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Percival Puggina (67)
é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país,
autor de Crônicas
contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas
e Gaviões.
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