CONVOQUEM O CASCÃO!
Percival Puggina
Estive fora do Brasil. Em
matéria de corrupção, foi um período sabático. Ao longo de três
semanas, percorri duas dezenas
de cidades francesas, coincidentemente na reta final da campanha para
as eleições parlamentares. Eleição distrital pura. Em cada
distrito pelo qual passei, nunca mais do que meia dúzia de
participantes em disputa. Pequenos cartazes, de idêntico tamanho, um
para cada candidato e um ao lado do outro, fixados em espaços
públicos predeterminados, compuseram toda a campanha de rua que pude
perceber por onde andei. O resto foram debates na tevê, em horário
noturno. Campanha baratíssima, portanto.
Bastou-me voltar ontem ao
Brasil para me deparar com um novo absurdo proporcionado pela CPMI
criada para esclarecer os escândalos em que está envolvido o senhor
Carlinhos Cachoeira. A base governista da comissão decidiu não
convocar o ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot. E fez o mesmo em
relação ao ex-proprietário da Delta Construções, Fernando
Cavendish. Como se vê, a CPMI começa a se tornar uma infâmia maior
do que o escândalo sob sua investigação.
Entendamos bem o conteúdo
da decisão. E baixemos logo a tampa para evitar os maus odores. A
CPMI, cujo pivô recebe assistência jurídica do ex-ministro da
Justiça do governo Lula, o Dr. Márcio Thomaz Bastos, vem convocando
depoentes que entram mudos e saem calados. Muitos parecem aprendizes
do estadista de Garanhuns. Nada sabem, nada viram e não estavam por
perto quando aconteceu. O próprio advogado do Carlinhos Cachoeira
será intimado pelo Ministério Público a esclarecer como recebe
honorários calculados em R$ 15 milhões de uma pessoa que, fora do
mundo do crime, não tem renda para contratar um estagiário. É
legítimo receber valores nesse montante, oriundos de atividade
ilegal ou criminosa? Dinheiro sujo, ao entrar na contabilidade do
escritório de um advogado, se torna dinheiro limpo? As operações
que realizam esse fim não são denominadas de "lavagem de
dinheiro"? O escritório do ex-ministro da Justiça considera a
indagação um abuso e um retrocesso nas garantias constitucionais. E
nada mais diz.
Pois bem, o ex-diretor do
Dnit se ofereceu para depor! Avisa que tem muito para contar. Diante
desse oferecimento, que faz a base do governo numa CPMI em flagrantes
dificuldades para ouvir depoentes que deponham? Se recusa a
convocá-lo. "Esse cara vem aqui para falar? De jeito nenhum! Só
queremos convocar quem nada tenha a dizer. Aqui ninguém fala!".
"Então convoca o Cavendish!", deve ter ponderado a
oposição. Também não. Sem essa de ouvir o ex-dono da principal
contratante do PAC, que se teria vangloriado de comprar quem quisesse
no país.
Sabem quem, a maioria dos
membros da CPMI decidiu convocar? A mulher do Carlinhos Cachoeira.
Verdade. Parece que na semana que vem chamarão a dona do instituto
de beleza que ela frequenta. Depois o veterinário da pet shop onde o
totó da família é levado para rotinas de banho, pelo e bigode. E,
mais adiante a Mônica, o Cebolinha e o Cascão, aquele sujo. Nada
como algo assim para a gente se sentir, de novo, pisando solo pátrio.
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Percival Puggina (67)
é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país,
autor de Crônicas
contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas
e Gaviões.
Recebido por e-mail.
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