O
HOMEM QUE DESMORALIZOU A PATIFARIA
Percival Puggina
Tão logo começaram a
circular pelo mundo as imagens de Lula e Maluf selando aliança
política para beneficiar Haddad no pleito paulistano, a mídia
disciplinada pelo PT começou a reprovar o comportamento de Lula. Não
o fazer seria escandaloso. Mas era preciso reprovar como quem
estivesse surpreso. Como se aquilo fosse uma grande novidade e uma
nódoa incompatível com a alva túnica do seráfico ex-presidente.
Do lado oposicionista,
surgiram comentários no sentido de que se tratava de uma aliança
entre iguais. Dizia-se que ambos se mereciam. Que seriam parceiros na
escassez de escrúpulos. Que os dois seriam dotados de uma
consciência maleável como massinha de moldar. Também essa foi
minha primeira opinião, até assistir a um debate em que tal
afirmação foi feita, recebendo a seguinte contestação de um
representante do PT: "Não dá para comparar Lula com Maluf.
Lula não é procurado pela Interpol!". Essa frase me levou a
colocar os dois personagens nos pratos de uma balança mental das
iniquidades. Instalei-os ali, enquanto sopesava as respectivas
biografias, que, a essas alturas, enchiam as páginas dos blogs e
sites da rede.
Resultado do teste: Maluf
foi catapultado para cima enquanto Lula se estatelava embaixo. De
fato, Lula não tem condenação criminal. Mas até mesmo na balança
de um juízo moral tolerante, é infinitamente mais danoso do que seu
parceiro. O que ele fez
com a política, com a democracia, com os critérios de juízo dos
eleitores e com as próprias instituições nacionais é pior, muito
pior do que o prontuário criminal do seu parceiro na eleição
paulistana. Os estragos de Maluf se indenizam em São Paulo, com
dinheiro, e se punem com cadeia. Os de Lula levarão décadas para
serem retificados na consciência nacional e nas instituições do
país.
A
sociedade, em algum momento, emergirá da letargia produzida pelo
carisma do ex-presidente e pela rede de mistificações em que se
envolve. Compreenderá, então, que o modo de fazer política
introduzido por Lula conseguiu
desmoralizar a patifaria. Antes dele havia um certo recato na
imoralidade. As vilanias eram executadas com algum escrúpulo. Quando
alguém gritava que o rei estava nu, as pessoas olhavam para as
partes
polpudas do rei e se
escandalizavam. Com Lula, as pessoas olham para o lado. Não querem
ver. São como os julgadores de Galileu que se recusavam a olhar pelo
telescópio com que ele lhes queria mostrar o universo: "Noi
non vogliamo guardare perché se lo facciamo
potremmo cambiare". Não olham porque
mudar de opinião pode custar caro.
Então, o rei aparece no
jardim, nu como uma donzela de Botticelli, e as pessoas olham para o
Maluf, de terno e gravata com ar de escândalo. Se isso não é a
desmoralização da moral, se a influência de Lula nos costumes
políticos não nos submete, como cidadãos, aos padrões próprios
de um covil de velhacos, então é porque - ai de mim! - em algum
lugar do passado recente, perdi a visão e a razão.
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Percival Puggina (67)
é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org,
articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país,
autor de Crônicas
contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas
e Gaviões.
Recebido por e-mail.
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