quinta-feira, 17 de janeiro de 2013



CENTRO/CENTRO-DIREITA EM DEBATE: A SITUAÇÃO PÓS-CRISE-2008!


       
1. A crise de 2008 não produziu apenas consequências econômicas. Também produziu e produz consequências políticas. O ultra-liberalismo nos mercados financeiros ficou com o peso maior da responsabilidade. Seguiram-se na Europa e nos EUA medidas regulatórias, incorporando outros países no G-20 para aumentar a base de legitimação.
       
2. Como consequência na Europa, a comunicação política, o discurso liberal saiu do palco. Inicialmente, as reuniões dos partidos de centro/centro-direita (CCD) enfatizaram a questão dos valores como razão para os abusos especulativos. Em seguida, foram agregadas as questões de ordem econômica e fiscal.
       
3. Na Europa há um claríssimo relançamento das ideias democrata-cristãs. No início de 2011, em Roma, uma reunião de dois dias com pesquisadores e políticos levantou a memória do pensamento democrata-cristão e projetou seus novos espaços. Na Alemanha o partido Liberal (FDP) corre sério risco de ficar fora do parlamento nacional na eleição de setembro de 2013. Na França, os partidos de CCD iniciam um processo de reestruturação política, facilitado pelos problemas do governo socialista. A inércia da esquerda e da direita abre espaços à anti-política (Piratas, MV5...).
       
4. O CDU de Angela Merkel sublinha sua natureza democrata-cristã e avança na questão ambiental. Recentemente, na Itália, o primeiro-ministro Monti renunciou e lançou uma ação coordenada de partidos de CCD, em base ao pensamento democrata-cristão. O Vaticano destacou e elogiou. A Democracia-Cristã da Itália, depois de 50 anos no poder no pós-guerra, naufragou num mar de corrupção. Quinze anos depois volta renovada, com um partido núcleo reproduzindo a sigla do CDU alemão.
       
5. As questões econômicas e fiscais foram adaptadas. Como financiar o Estado de Bem Estar na Europa? Não há mais espaço para déficit/dívida fiscal. Não se trata mais –dentro do escopo liberal anterior- pensar no setor privado linearmente. O alcance da regulamentação estatal ampliou e de forma drástica em nível financeiro e avança em nível institucional e fiscal.
       
6. A discussão sobre Valores, que vinha apenas sublinhada pelas questões relativas à Liberdade –latu sensu-, agora vem adjetivada: Valores Cristãos. Passou-se a um relacionamento com o mundo islâmico, respeitando as suas culturas, sem se exigir a cópia do modelo ocidental de democracia-liberal. Partidos Islâmicos já se integram a IDC (internacional de centro), que tem como base o PPE, líder no parlamento europeu.
       
7. E, finalmente, em nível econômico, não se trata mais do setor privado fazer melhor, mas com o dinheiro dos governos. Se o setor privado assumir funções públicas, deve fazê-lo com os próprios recursos, buscando um nível de produtividade e qualidade que permita prestar melhores serviços sem encarecer –ou mesmo reduzindo custos- para a população.
      
8. Na Europa, essa mudança –valores, estado e economia- é amplamente hegemônica. Nos EUA, os republicanos levaram um susto em 2012 pelo perfil do voto de Obama e estão levando o Tea Party de volta para o museu.
      
9. Na América Latina há um evidente atraso nos partidos e forças de CCD. Na medida em que a crise aqui não teve o impacto de lá, se insiste em nível dos Valores com as questões de Liberdade e em nível do Estado e da Economia com o mesmo discurso liberal anterior. Por isso, a onda populista ainda não reverteu no continente. E a economia, de longe, de maior sucesso na América Latina e uma das 5 de maior sucesso no mundo –o Chile- vê, sem entender, seu presidente, gestor do sucesso econômico, amargar a pior avaliação latino-americana. E as eleições de fins de 2013 estão mordendo seus calcanhares.


Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 17 de janeiro.

 

Nenhum comentário: