segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ÍNDIOS: UMA VERDADE REALMENTE INCONVENIENTE.

Prezados amigos.

Tenho lido todas as mensagens recebidas acerca do DECRETO que DETONA
com os índios, com os funcionários e com a FUNAI no seu todo. Todas me
causaram profunda tristeza e descontentamento, porém, a que me deixou
deveras DEPRIMIDA foi ver nossos amados índios se enfrentando a golpes
de borduna na sede da FUNAI, em Brasília, para defender seus direitos.

Me causou profunda tristeza ver um índio de meia-idade ferido e caído
ao chão. Imagino o desespero desses índios ao perceberem que o pouco
que têm acabou num estalar de dedos, oriundo de um criminoso DECRETO
orquestrado por aqueles que alardeiam o profundo saber da causa
indígena da nossa pátria.

Embora tenha sido invadida por imensa tristeza, posso afirmar que já
pressentia esses acontecimentos. Por quê?Pela falta de sinceridade e
de transparência que sempre observei nos órgãos públicos por onde
perambulava procurando auxílio para nossos assistidos carentes e
excluídos. Era patente a hipocrisia manifestada pela maioria dos
burocratas.

Tudo que está ocorrendo agora eu já havia verificado por meio de
pesquisas que realizei, e relatei em CARTA ABERTA que, em 1999,
protocolei na Presidência da República e em outros segmentos. E recebi
resposta oficial, mas, infelizmente, não tive acesso a mesma porque,
maldosamente, uma desonesta e traidora servidora da FUNAI a entregou à
FUNASA.

Para assistirmos os deficientes da Casa do Índio no Rio enfrentávamos
inúmeras dificuldades em plena cidade grande. Por isto, muitas vezes
eu ficava pensando que, se nós estávamos com tantas dificuldades aqui,
qual não era o sofrimento dos heróicos Administradores Regionais e
Chefes de Postos Indígenas? Afinal de contas, quem pode administrar um
órgão com características especiais quase que totalmente desprovidos
de recursos? E isso está provado no relatório do Primeiro Encontro
Nacional dos Administradores Executivos Regionais da FUNAI, realizado
em Brasília, de 17 a 22/08/92. São os seguintes os valores
orçamentários:
Em 1990 a FUNAI recebeu 9,40 % dos recursos solicitados;
Em 1991 a FUNAI recebeu 14,89 % dos recursos solicitados;
Em 1992 a FUNAI recebeu 1,15 % dos recursos solicitados

Uma calamidade! Uma destruição programada!

Além das restrições orçamentárias no que dizia respeito ao montante de
recursos, também ocorreram cortes em vários elementos de despesas,
impedindo vários investimentos, tais como: construções, reformas,
ampliações, aquisição de equipamentos, ações de saneamento básico e de
capacitação e reciclagem de recursos humanos.

Enquanto as verbas diminuíam para a FUNAI, com seus administradores
lutando bravamente para atender as inúmeras aldeias, determinadas ONGs
e outras instituições interessadas, apenas, em materiais para
pesquisas e/ou publicações, nos assediavam a todos instante com
propostas de parcerias etc. (Estou falando em 1992, porém, estamos no
ano de 2010 e tais investidas ainda ocorrem, agora, valendo-se
inclusive do MP para justificá-las.)

Tomada de asco e de uma profunda indignação, difícil de ser digerida,
me propus a relatar, em carta aberta, há dez anos, toda a barbaridade
que eu presenciava. Eu precisava desabafar.

Não estava com ódio, porque não podia deixar que meu interior se
incendiasse por causa da ambição e de outros sentimentos nefastos
daqueles que eram pagos para socorrer o índio. Tampouco podia deixar
de esclarecer às autoridades e ao público em geral as razões das
falhas dos serviços de assistência ao índio naqueles últimos 10 anos.
Além do mais, eu pretendia deixar registrada a situação dos índios na
época, muito ruim, causada, em grande parte, por acadêmicos levianos.

Esses pesquisadores nefastos precisam saber que seus atos deploráveis
também estão registrados e que serão objetos de pesquisas futuras.
Quem sabe, por netos dos índios que hoje padecem com esses acadêmicos.
Aí, a situação se inverterá.

Como lamento a situação dos meus companheiros que trabalham
arduamente, espalhados pelo imenso torrão desta nossa terra
brasileira! Quanta falta de respeito e consideração para com eles,
causados por burocratas de gabinete, que lutam para galgar escusas
posições e poderio. Afirmo porque tenho experiência de trabalho no
mato e convivência em área indígena real, não em acampamentos na
periferia das cidades.

Estou farta de ver acadêmicos que às vezes vão às aldeias, passam dois
ou três dias, com toda mordomia possível, e, ao retomar aos gabinetes,
posam de especialistas no assunto. Auto-intitulam-se indigenistas, dão
palestras, promovem "cursinhos" e escrevem livros. Sem contar os que
visitam e ou realizam alguns trabalhos em acampamentos próximos aos
grandes centros e se apresentam como se tivessem ido às mais distantes
aldeias. Nem sabem o que é uma aldeia!

Os que realmente trabalham em área indígena percorrem muitas léguas
para realizar sua missão de defender o índio, seja de avião, de
barcos, canoas, em lombo de animal, a pé e, muitas vezes, nesses
veículos todos. Os verdadeiros indigenistas trabalham
ininterruptamente, sem nada protestarem, realizando seus serviços com
dedicação e humanidade, a exemplo de EDI BEIRIZ, MARCIO ALVIM, ISAACK
AXER, ANUNCIATA CIDA, PINOCA DO TOCANTINS e muitos outros que exercem
suas funções única e exclusivamente por vocação e sem estrelismo!

Por nos dedicarmos aos deficientes físicos, visuais, mentais e outros
(crônicos e não sociais), nosso serviço aborrecia bastante (como
acorre até hoje) aos que gostam apenas do belo, das firulas, onde
podem locupletar-se em gastos exorbitantes e sublimar-se de diferentes
formas (líricas e românticas) com o índio de papel, de belas pinturas,
o bom selvagem. Querem distância do índio real, sofrido, necessitado.

Não foi com os excluídos que encontramos óbices e dificuldades, e sim
com os DITOS NORMAIS, pseudos defensores dos índios. Entre esses
falsos defensores houve até quem devolvesse dinheiro para a sede da
Funai, mesmo sabendo que era para a compra de alimentos dos
deficientes assistidos na Casa do Índio.

A respeito da fragilidade e do seqüestro da FUNAI e da FUNASA por
elementos perniciosos, que vem ocorrendo desde 1999, me permito
registrar trecho da palestra que proferi em cerimônia na Câmara dos
Deputados no dia 17 de março de 2009, transmitida em rede nacional
pela TV ALERJ:
“Após 40 anos de consolidação deste trabalho, passamos a ter que arcar
com sofrimentos supra-humanos devido às aves de rapina que a todo
custo queriam e ainda pensam, através de estratégias disfarçadas,
maquiavélicas e sorrateiras, em se apropriar do imóvel da Casa do
Índio para seus cabides de empregos e outras causas escusas, desviando
dos ideais que sempre nortearam a FUNAI, atualmente, muito mais
preocupada em preservar sua HISTORIA do que os índios, que são a
própria História.
Os índios estão abandonados à própria sorte, os VERDADEIROS SEM-TERRA,
porque, na concepção daqueles que sempre lhes tomam tudo, os índios
foram transformados em INVASORES e voltaram até a ser tratados como
CANIBAIS

Vejam só quanta mentira, quanta maldade sórdida.

Todo esse sensacionalismo perverso para destruí-los tem sido
arquitetado, planejado e posto em prática de uma forma que é
necessário que pessoas de pulso firme e de honradez tomem a iniciativa
de extirpar essa verdadeira central de intrigas.

Penso que tanto a FUNAI quanto a FUNASA deveriam ser
CHAMADAS A REALIDADE! Parar de querer a casa dos
índios pobres e deficientes, parar de querer apenas o dinheiro dos
índios, parar de viver às custas do índio, e passar a funcionar em
razão dos índios. Pois a FUNAI foi criada exatamente para isso, e a
FUNASA, desde o governo anterior, que se arvorou em administrar a
saúde do índio, só a tem prejudicado, e de forma apavorante. Tamanha a
incompetência, ineficiência e, muitas vezes, a má-fé de alguns
servidores e de outros particulares.

Pessoas mal-intencionadas também da FUNASA agarram-se a uma
mal-fadada Medida Provisória do ano de 1999, que tanta desgraça gerou
para os índios brasileiros. As arbitrariedades cometidas tanto pela
FUNAI quanto pela FUNASA deveriam e devem ser apuradas de forma
severa!

Com o inicio do ano que desponta estamos em tempo de desvendar
verdades, estamos na fase da reflexão, dos esclarecimentos e da
expurgação do inconformismo. Precisamos desmascarar as flagrantes
situações de injustiça, de instabilidade, de contrariedades e
veleidades que nos conduzem a olhar com apreensão o modo e princípios
de vida da comunidade indígena, e diga-se, às custas da miséria e da
fome dos índios pobres e doentes.”

Em suma, para as autoridades o índio continua como no tempo de Cabral,
servindo apenas de massa de manobra, visto como criatura exótica, sem
necessidades como qualquer ser humano e, talvez, quem sabe, sem alma,
como dizia o Papa da época. E, como naquele tempo, o homem branco
conseguiu de novo jogar irmão índio contra irmão índio.

É chegada a hora dos que não compactuam com essa canalhice perpetrada
contra os índios se levantar e usar de todos os meios possíveis para
que esse DECRETO perca seu efeito.
O Presidente LULA precisa ser informado por nós do que está
acontecendo às suas costas.

O momento é oportuno para que o Presidente da República conheça as
despesas exorbitantes que determinados órgãos, que têem o índio como
objeto, gastam com papelarias, intermináveis viagens de avião, inchaço
de funcionários e cargos em comissão nos seus gabinetes. Tudo, segundo
eles, para “cuidar do pobre índio no interior da floresta”. Se nem
esses burocratas acreditam nisso, com certeza a Policia Federal e o
Ministério Público também não vão acreditar.

Assim, é de estranhar que a FUNAI abra concurso público em 2010 em vez
de melhorar as condições dos excelentes e experientes indigenistas que
lá trabalham a duras penas. Querem mesmo é acabar com o atendimento
minimamente decente ao povo indígena. Por isso, os índios se enfrentam
a pauladas em Brasília, o que é vergonhoso e deplorável pra a FUNAI.

A consciência humana reclama que justifiquemos nossas ações e o
salário que ganhamos. Se cumprirmos com o nosso dever, ou se apenas
nos prevalecemos do cargo para auferirmos vantagens pessoais às
prerrogativas a ele inerentes.

Como o filosofo Kant afirma: “Há somente duas coisas que me causam
respeito: o céu estrelado sobre mim e a consciência moral dentro de
mim”.
RJ 24/01/2010
Abraços fraternos da sertanista Eunice Cariry.

Recebido por e-mail.

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