domingo, 26 de dezembro de 2010


LIBERDADE DE PENSAR E TER

PASSADO



Aristoteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro

O fascinante na vida dos que se dedicam à vida pública e seu entorno, como a literatura, o jornalismo, a filosofia e até mesmo a militância religiosa, é que o pensamento humano está em permanente mutação. E isso em função de novas informações, alterações nos rumos da história, fatores como o tempo e o amadurecimento para alterar comportamentos, sem ferir a essência do idealismo.

Não se deve condenar quem passa uma vida na coerência de suas convicções. E muito menos aqueles que modificam a maneira de pensar e agir em função de novas informações e realidade diferentes.

Assim sendo, essa história de se mexer em arquivos com objetivos políticos é um ato menor e até mesmo covarde. Além de antidemocrático, pois pretende constranger cidadãos de responsabilidade por mudança de rumo em sua linha de pensamento e ação. A mais, em cada idade e em cada época, o quadro tem uma forma e a conjuntura é diversa.

Logo, se os crimes de morte prescrevem, em todo o mundo e em todas as épocas, porque não tornar esquecido em termos de cobrança o comportamento deste ou daquele em determinado tempo. A história está cheia de exemplos de erros coletivos, especialmente na vida política. Jânio Quadros foi eleito presidente da República com uma avalanche de votos e renunciou, decepcionando seu eleitorado. Mas voltou prefeito, 25 anos depois, e parece que não decepcionou. Getulio Vargas, em nível nacional, e Adhemar de Barros, no regional paulista, sofreram forte oposição, deixaram o poder e depois voltaram nos braços do povo.

A presidente Dilma tem passado, história. Não é necessariamente a mesma nem deve ser julgada ou avaliada pelos impulsos da mocidade. Espera-se que, daqueles tempos, tenha mantido o amor ao país, o desejo de servir a uma causa que considera justa. Mas estamos no século XXI, em outro momento histórico. O que nos interessa é o que ela pensa e faz hoje; não no passado. Assim como muitos outros. A anistia não é apenas um ato legal. É mais do que isso; é uma postura liberal diante da vida e do mundo. Manipular o passado, os parentes, os erros dos políticos praticados na mocidade é um ato menor. A sociedade não deve dar guarida a este tipo de especulação. Não é para esconder, mas não é para explorar. Nem contra nem a favor. O que passou, passou.

Vale apenas lembrar a divisa de um movimento político de inspiração lacerdista (de Carlos Lacerda) denominado Clube da Lanterna: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Ou seja, sugestiva e sempre atual.

Transcrito da página do escritor e jornalista Aristóteles Drummond:
http://www.aristotelesdrummond.com.br/


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