segunda-feira, 12 de setembro de 2011


O que nos pertence


Recebi um texto bastante interessante sobre uma pessoa que havia morrido intempestivamente e iniciou um bate papo com aquele ser diferente, a morte, que havia vindo buscá-la. A pessoa perguntava então sobre o que poderia levar, desde bens materiais, amigos, até o próprio corpo.

As respostas, sempre negativas, mas explicadas com delicadeza, davam conta que os bens materiais não lhe pertenciam, só haviam sido emprestados, os amigos eram peças do caminho, os filhos, do mundo, o corpo, da terra e, finalmente, concluindo que literalmente nada levaria, perguntou então o que na vida que acabara fora realmente dele. A resposta foi que dele sempre foi cada segundo de existência, o tempo.

Refletindo sobre o texto, percebi sobre como nunca me preocupei com a única coisa que realmente me pertence, o tempo, que pode ser utilizado como e quando eu quiser.

Sobre o tempo passado, penso que poderia ter brincado, estudado, lido, trabalhado, ou qualquer outra atividade em maior ou menor quantidade do que fiz, mas isso agora já não interessa, pois não há como mudar.

Cuidar mais ou menos da saúde, beber, fumar ou praticar esportes, em qualquer quantidade, também é uma opção de cada um e o que fiz com essas alternativas também não poderá ser alterado.

Desenvolvendo raciocínios como esses, acabo percebendo coisas que poderia ter feito de outra maneira e quantas repetiria, mas que minha única alternativa atual é, analisando esse passado, tentar corrigir as escolhas erradas e fazer muito mais das que acertei.

Seria insensatez repetir erros que já me convenci realmente terem sido erros, como voltar a fumar quando já havia parado. Mas vejo pessoas conscientes, maduras, repetirem erros como esse, com as mesmas desculpas sempre utilizadas por todos, que estavam em uma fase difícil, ansiosos, etc..., sem pensar no bem mais precioso que possui: a vida, ou na daqueles que os cercam, como seus filhos.

Depois de determinada idade, nossa vida passa a incluir outras pessoas, como esposa, filhos e até netos, que não podem nos impedir de realizar nada, mas sofrerão as consequências de nossos erros, como uma doença provocada por bebidas ou cigarros, o que imagino ser motivo suficiente para que todos tenhamos mais responsabilidades com as decisões que tomaremos, em qualquer área, de relacionamento, comercial ou de lazer.

Os prazeres terrenos como os da leitura, esportes, aventuras ,ou mesmo os físicos, são incontáveis e cada um de nós possui o dom de poder escolher o que mais lhe agrada, mas, quando isso envolve outras pessoas, é necessário também levarmos em consideração os riscos de nossas opções, para que suas consequências não afetem exatamente aqueles a quem mais queremos bem.

Já errei bastante em muitas áreas e não me arrependo de praticamente nenhum deles, à exceção daqueles que hoje percebo, provocaram dor em meus filhos, como meu recente acidente e suas consequências. Entendo agora que um dos prazeres por mim escolhido, as viagens de moto, foram fantásticas, me deram muito prazer, mas também provocaram sérias consequências, em mim e nos meus.

Como desde nosso nascimento estamos cada vez mais próximos da conversa com aquela que virá nos acompanhar na última viagem, precisamos estar sempre atentos para a única coisa que realmente nos pertence: nosso tempo e como o utilizamos.

Vivendo sem muito querer, mas nunca deixando de tentar tudo o que se quer, ser ou ter, seremos e teremos tudo o que pudermos ser, ou ter, sem provocar dor em nossos próximos.

João Bosco Leal

www.joaoboscoleal.com.br


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