segunda-feira, 4 de março de 2013




A MORTE DO URBANISMO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO! 

   
       
1. Alfredo Agache é o pai da expressão URBANISMO, consagrada por ele na Conferência de Town Planing em Londres, em 1910. Entre 1928 e 1931 trabalhou no Plano do Rio de Janeiro, contratado pelo prefeito Prado Junior e mantido até a publicação do Plano Agache, por Pedro Ernesto e seu secretário de Urbanismo Armando Godoy. Agache caracterizou o Urbanismo como uma “ciência” fundamental para a dinâmica do crescimento e organização das cidades. Para ele, era necessário integrar outras ciências ao estudo das cidades, como sociologia, engenharia, sanitarismo... O grande desafio do urbanista é conseguir relacionar as necessidades funcionais de uma cidade, incluindo o econômico, e conhecer suas características primitivas e a história local.
           
2. Na cidade do Rio de Janeiro, a partir da atual administração em 2009, a função Urbanismo desapareceu. Em seu lugar entrou uma colcha de retalhos de projetos, avaliados em si mesmos, sem qualquer relação com o conjunto da cidade e aplicação de outras disciplinas –físicas e humanas. O olhar é afunilado nos projetos em si, sem avaliar seus impactos e ou projetar as suas dinâmicas. Olham-se as próximas eleições e não as próximas gerações.
           
3. A Cidade é um ser vivo e a intervenção governamental deve respeitar as tendências dessa vida, corrigindo desvios e potencializando virtudes.
           
4. Um exemplo do abandono do Urbanismo é a mudança de estratégia para a Área Portuária. O que se tinha em mente era um bairro de base residencial exponenciando o projeto SAGAS (Saúde, Gamboa e Santo Cristo), assinado em 1985, que propôs nova legislação que preservaria o uso residencial e o patrimônio arquitetônico e cultural da área, depois afirmado como APAC em 1988.
           
5. Mas prevaleceu a visão dos negócios e do interesse privado e o foco passou a ser comercial, criando um bairro de escritórios com autorização em lei para elevar generalizadamente os gabaritos, valorizando o solo e os certificados como fonte de receitas. Se der certo –em si- o “Centro da Cidade” –ao lado- entrará em processo de declínio e desintegração. Irá estimular o deslocamento radial e o uso do carro. Irá periferizar as comunidades locais que terão de se entender como meros prestadores de serviços nos prédios. Isso, se os trabalhadores da construção civil de fora do SAGAS não favelizarem, como nos mostra a urbanização da zona sul desde os anos 30.
           
6. A lógica do lucro imobiliário tem prevalecido no Rio em muitos governos, como o atual, construindo uma equação monótona de incremento da taxa de lucro-investimentos-queda da taxa de lucro-degradação e avanço para o próximo bairro. Assim foi do Centro a Copacabana. Vários bairros foram salvos pelas APACs desde o Corredor Cultural e Santa Teresa em 1984, a SAGAS e a Urca em 1988, etc., até Santa Cruz e São Cristóvão em 1993, Paquetá em 1999, a Leblon, Laranjeiras, Jardim Botânico. Botafogo, Ipanema, Catete e Humaitá entre 2001 e 2006. As APACs valorizam os imóveis das pessoas e desestimulam a lógica do lucro imobiliário.
           
7. O centro de Santa Cruz foi estuprado pelo BRT e agora se fala em “desapacar”, mudando radicalmente a característica histórica do bairro.
          
8. Os programas Rio-Cidade e Favela-Bairro integrados às APACs corrigiram esses desvios.
          
9. A  visão-projeto   atinge   – também -   de   forma avassaladora a Baixada da Barra/Jacarepaguá e o PEU –plano de estruturação urbana de Vargens- é exemplo disso. Da mesma forma, a desculpa olímpica e a justificativa de poupar recursos públicos transformará parte da Barra (chegando a Abelardo Bueno) em um paliteiro ao lado das lagoas. Lucio Costa treme em seu túmulo.
      
10. Para não falar dos incentivos gerais de hotelarização, como se as 3 semanas dos JJOO gerassem demanda permanente. Vão virar apart-hotéis?  Da mesma forma, o oportunismo imobiliário em desativar delegacias e quartéis. E a faixa Hotel Glória-Marina que, a exemplo do Complexo do Alemão, poderá ser conhecida no futuro como Complexo do Eike.



Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 4 de março.

 

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