segunda-feira, 18 de março de 2013



ANTIPOLÍTICA E PÓS-POLÍTICA!  O FIM DA HISTÓRIA E O FIM DA GEOGRAFIA!


(Iván de la Nuez - El País, 05) 1. O pós-político pensa a sociedade a partir do fim das ideologias. O antipolítico quer recuperar o debate ideológico, mas suspeita de sua representação nos parlamentos, ou na política partidária. O pós-político aponta seu alvo, sempre, para o poder (que é o Estado e, ainda mais, as elites financeiras ou midiáticas). O antipolítico despreza os acertos com o governo ou com a representação parlamentar. O pós-político parece saber de que forma canalizar o seu desprezo, e o antipolítico não parece ter encontrado a chave para organizar o seu descontentamento.

2. Vamos dizer que a pós-política está na origem da crise e a antipolítica é parte de seu resultado. Para a pós-política, qualquer coisa é possível neste sistema; o antipolítico está convencido de que nada é possível dentro desse sistema. Na verdade, a pós-política poderia ser entendida como uma época em que a cultura recicla os movimentos sociais para convertê-los em projetos estéticos. A antipolítica inverteu essa tendência: agora são os movimentos sociais, as manifestações, a revolta em si, que parecem influenciar a politização da cultura.

3. Vale reconhecer que, pelo menos como tendência, se a pós-política esvazia de conteúdo as instituições democráticas, a antipolítica pretende prover a praça pública de base política. O pós-político se utiliza dos partidos; o antipolítico prefere os movimentos. O pós-político aposta na tecnologia para multiplicar o poder econômico e financeiro. A antipolítica usa a tecnologia para subvertê-la a favor da mobilização. Um lado da moeda mostra um volume de negócios sem precedentes (o dinheiro virtual também multiplica exponencialmente a magnitude da crise). O outro lado mostra a possibilidade de uma economia, uma democracia e uma cultura que tentam operar em código aberto.

4. A pós-política é uma forma de governar baseada no "fim da história", proclamada por Fukuyama. A antipolítica está mais imersa no que Paul Virilio descreveu como "o fim da geografia", em linha com o encurtamento das distâncias provocada pela Internet. A pós-política necessita do controle dos meios de comunicação, a antipolítica, da expansão das redes sociais...
5. Pós-política e antipolítica travam sua batalha sobre as ruínas da socialdemocracia. A primeira, com seu ataque persistente sobre a condição econômica do Estado do bem-estar; a segunda, a partir de uma crítica geracional e cultural que rejeita a moderação, os pactos intransigentes e uma linguagem patrulhada pela correção política. Mais e mais, a partir de ângulos opostos, nos deixam convencidos de que a política - sem-prefixos - não pode continuar como antes. Também a questão sobre o futuro desta democracia cheia de rachaduras a que estamos presos e a incerteza de não saber se estamos testemunhando a sua regeneração inadiável ou a seu colapso definitivo.


Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 15 de março.


 

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