quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


EX-BLOG ENTREVISTA CESAR MAIA SOBRE A REUNIÃO DA IDC, EM BEIRUTE!


P- O que chamou mais sua atenção na sua viagem ao Líbano, semana passada?
R- Foi a avaliação da situação do Oriente Médio, em especial em relação a Israel. As forças políticas que, anos atrás, estavam em guerra civil (sunitas, cristãos maronitas, xiitas...) não têm -no fundamental- diferenças a respeito. Todos chamam a área da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Israel de "Palestina Ocupada". Quando se referem a Israel, usam a expressão "Palestina Ocupada".

P- São contra ou a favor da criação do Estado Palestino com retirada de Israel de algumas áreas?
R- Nem tratam disso. O que não aceitam é a existência do Estado de Israel. Por isso usam a expressão "Palestina Ocupada". É assim que as pessoas -não só os políticos- falam nas ruas, supermercado, restaurantes..., em qualquer ponto do país, de norte a sul. Lembro que o francês e o inglês são idiomas de uso geral, além do árabe.

P- E como o estrangeiro, turista ou não, sente isso?
R- É simples. Não se pode entrar em nenhum país do Oriente Médio e do Golfo se seu passaporte tem o visto ou o carimbo de passagem por Israel. Israel, para não perder visitantes e turistas, dá o visto ou carimbo em papel a parte. Ou, então, se teria que ter dois passaportes para ir a quaisquer daqueles países e a Israel, mesmo que anos depois.

P- E a situação do Hezbollah no Líbano?
R- Essa foi outra surpresa. Mesmo seus adversários em guerra civil, os cristãos maronitas, definem o Hezbollah como defensores patrióticos do Líbano, e o fato de manterem as suas armas não gera reação. Alegam que é inevitável, enquanto persistir o "risco". Vi três campos de refugiados no norte, centro e sul. Pareceu tudo tranquilo. São cercados, como condomínios. No caminho a Baalbek (centro-norte) as lojas na beira da estrada, e pessoas, no acesso a locais de interesse, vendem bandeiras, camisas e chapéus do Hezbollah e destacam o amarelo, que é a logomarca da organização.

P- E os discursos na reunião em que participou? Quais os que você destacaria?
R- Eu situaria dois polos. Um marcado pela apresentação do ex-chanceler da Itália, que entende que as decisões tomadas nos países da Primavera Árabe devem ser inteiramente acatadas, se as eleições forem livres, sem qualquer preocupação pelo fato dos partidos islâmicos estarem vencendo ou adotarem outra versão de Estado. Do outro lado, marcado pelo discurso do presidente do Kataeb (cristão maronita), que exalta a preocupação com as vitórias dos partidos islâmicos, pois elas poderiam apontar ao fortalecimento do fundamentalismo.

P- Alguma preocupação com violência para os turistas?
R- Nenhuma, nem sensação que se pode ser assaltado nas ruas das principais cidades, de Trípoli a Tiro. O governo -plurirreligioso- do Líbano só teme a situação atual da Síria, pois, pelo menos, um terço do território do Líbano pertenceu à Síria até a primeira guerra mundial e uma guerra civil lá afetaria a segurança da fronteira norte. Já está afetando o fluxo de turistas sírios e comércio entre os países.

P- Finalmente, alguma anotação como Ex-Prefeito?
R- O centro comercial de Beirute é surpreendente. Todo reconstruído usando como referência e inspiração a arquitetura de Paris do final do século XIX, que influenciou o Líbano no período de "protetorado" francês. E lojas de rua de todas as grifes que se possa imaginar, com enorme sofisticação. Limpeza absoluta, conforto e beleza nos espaços públicos. Não se encontra nada parecido no mundo, exceção de shoppings. Essa área restaurada se chama "Solidaire", uma empresa privada que liderou todo esse processo. Os donos dos imóveis destruídos pelos bombardeios eram procurados e se oferecia que eles passassem a ser acionistas do negócio, pelo valor de seus imóveis. Uma fórmula extraordinariamente bem sucedida, minimizando o custo do capital e criando pequenos capitalistas associados. O sucesso do empreendimento garantiu a satisfação de todos os 'acionistas'.

Transcrito do Ex-Blog do César Maia de 1º de fevereiro.


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