Aileda de Mattos Oliveira*
“Sem o Brasil, Portugal é uma insignificante potência; o Brasil sem forças é um preciosíssimo tesouro abandonado a quem o quiser ocupar”. (Martinho de Mello e Castro, Secretário da Marinha e Ultramar, 1779) [1]
No violento embate de interesses subalternos em que se transformou a outrora nobre arte política de governar, raros são os que, desligados da rinha das disputas menores, têm visão prospectiva a respeito dos sérios problemas nacionais e antecipam-se em emitir soluções possíveis para eles.
As necessidades do momento devem ser satisfeitas, evitando, assim, as dificuldades crescentes para saná-las em razão da negligência dos governantes em cujas mãos está, infelizmente, o destino do país.
As urgências de uma nação devem ser respondidas com a mesma presteza com que surgem as suas carências, pondo-se em prática o conjunto de procedimentos considerado adequado à situação exigida e que, supõe-se, deveria estar incluso no rol das prioridades governamentais.
Fala-se, aqui, em defesa de território. Em cada época, há uma visão diferenciada do problema, de acordo com as características dos potenciais grupos beligerantes e da técnica militar de cada um. Assim, as estratégias de proteção do território conquistado têm de se adequar, pela premência, aos recursos humanos do momento, para, posteriormente, tornarem-se dispositivos altamente comprometidos, visando a este único fim.
O exemplo vem de antes de Cristo, na figura de uma grande personalidade histórica.
O notável general romano, Júlio César, numa atitude exemplar de militar e político, e também, de humanista, pôs em prática uma estratégia de defesa dos territórios ocupados, com a sabedoria adquirida nos muitos anos de convivência com seus subordinados, nos campos de batalha.
Soldados fiéis, antigos componentes de sua tropa e conhecedores da incontestável liderança do general, ao seu chamado, vinham de todas as partes de Roma ou de onde se encontrassem, para colocar-se à disposição de seu comando, a fim de reorganizarem e porem em marcha a famosa e respeitada XIII Legião.
Esses veteranos de guerra, ao deixarem definitivamente a frente de combate, sem meios de sobrevivência, recebiam de seu general lotes de terra nas fronteiras dos territórios conquistados, onde se instalavam com suas famílias, implantavam o latim, cultivavam a terra para o seu próprio sustento e, como antigos guerreiros, defendiam-nas das hordas inimigas.
Resolvia, assim, Júlio César, três problemas fundamentais de Roma: o cultural (a difusão do latim), o social (a doação de pequenos latifúndios) e o da defesa (aos cuidados dos velhos combatentes), com um só ato decisório.
Essa é uma das razões por que os políticos brasileiros deveriam ler muito História e nenhuma teoria marxista. É capaz de grande parte do entulho político nem ter ouvido falar nesse romano, pensando tratar-se de um militar da “linha dura”, do nosso combalido Exército, remanescente do “golpe” de 64. Ignorância crassa é o que não falta no Centro Administrativo e Político de Brasília.
Fica a ideia lançada, como Júlio César lançou, no Rubicão, a sua sorte.
Todo esse introito é para lembrar ao MD que uma das imprescindíveis formas de defesa de um território é a sua imediata ocupação, principalmente nas fronteiras.
Se a população local é escassa, como no caso da Amazônia, por que não permitir aos índios optarem pela aculturação, ou pela permanência na vida tribal? A escolha tem que ser deles e não decidida pela FUNAI, por decreto, pelas ‘missões eclesiásticas’ ou pelos organismos internacionais.
Sabe-se, de antemão, que a grande massa indígena iria escolher a primeira opção, a fim de usufruir dos benefícios da civilização, brasileiros que são como todos os demais. Por que não lhes permitir a miscigenação? Assim desejou Marquês de Pombal, quando sentiu a urgente necessidade de povoar o Brasil Colônia.
É uma farsa dizer que os índios contaminarão a sua cultura primitiva ao penetrarem na sociedade brasileira, considerando que nenhum gaúcho, fora do seu rincão, esqueceu o chimarrão, nem o nordestino o seu forró.
Se a preocupação é de não tornar híbridos os costumes indígenas, por que o governo permite as organizações não governamentais estrangeiras lhes ensinarem a língua de seus países de origem, costumes e hábitos alienígenas, aculturamento contrário e pernicioso à soberania nacional? Por que permite a ida de indígenas a países europeus e aos Estados Unidos, receberem doutrinação antibrasileira para, no retorno, tornarem-se pavios de uma bomba a ser detonada na Amazônia, quando convier a seus doutrinadores? Não fere os direitos humanos servirem de exibição como objeto exótico em países hegemônicos?
Quanta contradição! Quanta traição!
Que acordos são esses assinados na escuridão da floresta, sem que os olhos dos brasileiros conscientes possam ver qual a moeda de troca pelo entreguismo escancarado das instituições brasileiras criadas, justamente, para defender os índios, vítimas seculares da Igreja e dos interesses escusos nacionais e internacionais? Quanta sem-vergonhice por trás dessa exagerada, porque farsesca, ‘preservação cultural’!
A traição é o pior ato praticado por um indivíduo. Perpetrado pelas costas, na surdina, sem dar à vítima meios de defesa, é o mais covarde ato dos covardes. Foi assim na Intentona de 35. Está sendo assim no Brasil, traído na sua soberania, pela criminosa omissão dos governantes. Continuará assim, desde que permaneçam os apátridas a ignorarem a Constituição e o Estado Brasileiro.
A permanência dessa casta de estelionatários políticos será longa se a massa festeira, irresponsável, não tomar as rédeas da Nação, mostrar aos rapinas o caminho da rua, para que possa ser chamado, condignamente, de povo.
Só para lembrar aos nada estudiosos, porém, servis políticos nacionais: Júlio César foi vítima de traição com a cumplicidade do Senado.
(*Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.)
[1] In: GOMES, Laurentino. 1808.
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